Depois de muito
As Crônicas de Elgalor Capítulo IX: A caminho do Abismo
Nos salões de Guerra de Sírhion, o Senhor dos Ventos explicou detalhadamente o que os heróis deveriam fazer para que os povos livres tivessem uma chance de impedir o Rei Dragão de subjugar todos os povos de Elgalor.
- O grande Mycen era sábio. – explicou o Senhor dos Ventos – Ele cogitou a possibilidade de servos das trevas liberarem a alma do Rei Dragão. Por conta disto, ordenou que seus seguidores mais poderosos preparassem amuletos mágicos que continham parte de sua própria alma e essência. Após criar os artefatos, os seguidores de Mycen os mantiveram em segurança máxima. Caso o Rei Dragão um dia retornasse, haveria um meio de derrotá-lo.
- E o que houve com estes guardiões? - perguntou Astreya.
- Criaram uma ordem poderosa – respondeu o Senhor dos Ventos – a Ordem da Chama Azul – que atualmente é liderada por um grande arqui-mago do reino de Kamaro, um homem sábio chamado Sahlam.
- Já ouvi falar muito desta ordem e do mago que a lidera – disse Astreya – eles são grandes guardiães de nosso mundo, e possuem membros espalhados por toda Elgalor.
- Se para conseguir os amuletos fosse preciso apenas conversar com o mago – interrompeu Aramil – você não teria nos procurado. O que aconteceu com o tal Sahlam?
- Após um grande ataque de arqui-demônios que destruiu a sede principal da Ordem da Chama Azul, Sahlam simplesmente desapareceu - disse o Senhor dos Ventos com pesar na voz – isso foi há mais de um mês atrás, e apenas recentemente descobri o paradeiro dele.
- E quanto aos amuletos? – perguntou Hargor – estão perdidos?
- Não – respondeu o Senhor dos Ventos – Estou certo de que Sahlam os guardaria em um local menos óbvio, e ainda mais bem protegido.
- E onde ele está agora? – Perguntou Evan.
- No coração do mundo dos demônios – disse o Senhor dos Ventos – na dimensão que nós chamamos de Abismo.
Aramil, Hargor e Astreya já possuíam um conhecimento considerável sobre o local. Não que já tivessem ousado colocar os pés lá, mas seus estudos sobre o assunto lhes renderam informações tenebrosas, e a mera menção do nome aliada à constatação óbvia que eles teriam que se dirigir para lá fez com que os três sentissem um forte calafrio na espinha.
- Hahaha – zombou Aramil - você só pode estar brincando!
- Aramil! – repreendeu Astreya.
- Se ele está lá, não temos escolha alguma – disse Evan – partiremos o quanto antes.
- Fale por você, paladino! – disse Aramil zangado – não há nada além de fogo e morte naquele local, e se o mago realmente estava lá, ou já partiu, ou está morto.
- Se estivesse morto, nós saberíamos – respondeu Hargor – e poderíamos nos comunicar com seu espírito se fosse o caso. Ele provavelmente está sendo mantido preso em algum lugar para evitar justamente isso.
- Sim... – respondeu o Senhor dos Ventos – nas catacumbas subterrâneas de Magtherimoth.
- Magtherimoth é uma lenda – disse Aramil – A suposta Cidadela Comercial dos demônios e lordes Efreets é apenas uma lenda para atrair aventureiros tolos para os mercados de escravos existentes no Abismo.
- A cidadela é real, posso lhe garantir – respondeu o Senhor dos Ventos - Eu mesmo já estive lá uma vez.
- Então, já resolvemos o problema de achar o lugar – disse Hargor – mas as catacumbas...
- O que têm elas, Hargor? – perguntou Oyama.
- Segundo as lendas, existem 666 catacumbas abaixo de Magtherimoth – disse Astreya – e cada catacumba é mais ou menos do tamanho de Sírhion.
- De que tamanho é esta cidade? – perguntou Evan.
- SE ela existir mesmo – disse Aramil aborrecido – as lendas contam que seu tamanho equivale à área das Terras Sombrias.
- E por que seria tão difícil encontrar uma cidade deste tamanho e ver se ela realmente existe? - Perguntou Bulma já cansada de olhar para a lâmina de seu machado.
- Porque o abismo é cerca de 100 vezes maior do que o nosso mundo – Disse Hargor.
- E porque a cidade muda de lugar a cada mês, e é magicamente protegida contra detecções “indesejáveis” - Completou Astreya.
- Eu estou certo de que senti a presença de Sahlam sob as construções de Magtherimoth.
- Bom, então vamos para lá encontrar o mago e terminar logo com isso! – disse Oyama.
- Claro, e depois podemos aproveitar e destruir os Lordes do Inferno também... –ridicularizou Aramil – Vocês estão Loucos!
- É a única forma, Aramil - disse Astreya.
- Esta é uma missão suicida! – retrucou o mago.
- Então fique aqui trocando a fralda das crianças, covarde! – disse Bulma se levantando.
- Hahaha – gargalhou Oyama – Mas tome cuidado porque elas podem morder, Aramil! Talvez fosse melhor você pedir um destacamento de guerreiros para te proteger...
- Bulma, por que você não pega o Oyama e vão ambos para...
- Ele irá conosco! – disse Evan antes que Aramil terminasse o comentário que provavelmente eclodiria em uma pequena guerra naquele local – A rainha Meliann pediu que ele acompanhasse nossa comitiva, e Aramil não irá desonrar seu povo fugindo agora.
- Certamente que não – respondeu Hargor para encerrar o assunto – o que precisamos para sobreviver lá, Senhor dos Ventos?
- Aquela cidade é um dos poucos lugares respiráveis e não diretamente fatais dentro do abismo – Respondeu o sábio - Vocês poderão respirar normalmente, e a menos que deixem a cidade ou as catacumbas abaixo dela, o ambiente hostil do abismo não os afetará... muito.
- Como assim? – perguntou Oyama.
- Aquele local é impregnado de energia maligna, e haverá diversas criaturas ali que tentarão corrompê-los – respondeu o Senhor dos Ventos – vocês devem buscar informações da maneira mais discreta possível, e tentar encontrar Sahlam em menos de 4 dias.
- Por que “4 dias”? – questionou Hargor.
- Porque após isso, a cidade irá se mover novamente, e eu não tenho garantia nenhuma que seria capaz de encontrá-la novamente.
- Então se não sairmos em 4 dias... – disse Oyama.
- Teremos um novo e belo lar pelo resto de nossas vidas – respondeu sarcasticamente Aramil – não que isto será muito tempo, é claro.
- Eu não lhes pediria isto se houvesse outra forma de resolver o problema – disse o Senhor dos Ventos – sejam discretos, e não ofereçam nenhum tipo de pagamento por informações que não seja ouro ou jóias. Dever favores para aquelas criaturas se mostrará fatal, e na pior hora possível.
- E acima de tudo – continuou o sábio – Mantenham distância da bruxa conhecida como Babaiagha.