Bem-vindos!

Bons amigos, valorosos guerreiros da espada e da magia, nobres bardos e todos aqueles com quem tiver o prazer de cruzar meu caminho nesta valorosa, emocionante e por vezes trágica jornada em que me encontro! É com grande alegria e prazer que lhes dou as boas-vindas, e os convido a lerem e compartilharem comigo as crônicas e canções que tenho registradas em meu cancioneiro e em meu diário...Aqui, contarei histórias sobre valorosos heróis, batalhas épicas e grandes feitos. Este é o espaço para que tais fatos sejam louvados e lembrados como merecem, sendo passados a todas as gerações de homens e mulheres de coração bravo. Juntos cantemos, levando as vozes daqueles que mudaram os seus destinos e trouxeram luz a seus mundos a todos os que quiserem ouvi-las!Eu vos saúdo, nobres aventureiros e irmãos! Que teus nomes sejam lembrados...
(Arte da imagem inicial por André Vazzios)

Astreya Anathar Bhael

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domingo, 15 de abril de 2012

As Crônicas de Elgalor Capítulo IX: A caminho do Abismo



Depois de muito brigar pedir ao Odin, ele finalmente escreveu mais um capítulo das Crônicas de Elgalor!! Eu pelo menos já estava com muita saudade. Espero que gostem e apreciem esse novo capítulo de uma história que marcou o mundo de Elgalor. Com vocês, mais uma parte de A Caminho do Abismo! Não lembra do que aconteceu nos últimos tempos? Dê uma olhada AQUI!

As Crônicas de Elgalor Capítulo IX: A caminho do Abismo

Nos salões de Guerra de Sírhion, o Senhor dos Ventos explicou detalhadamente o que os heróis deveriam fazer para que os povos livres tivessem uma chance de impedir o Rei Dragão de subjugar todos os povos de Elgalor.

- O grande Mycen era sábio. – explicou o Senhor dos Ventos – Ele cogitou a possibilidade de servos das trevas liberarem a alma do Rei Dragão. Por conta disto, ordenou que seus seguidores mais poderosos preparassem amuletos mágicos que continham parte de sua própria alma e essência. Após criar os artefatos, os seguidores de Mycen os mantiveram em segurança máxima. Caso o Rei Dragão um dia retornasse, haveria um meio de derrotá-lo.
- E o que houve com estes guardiões? - perguntou Astreya.
- Criaram uma ordem poderosa – respondeu o Senhor dos Ventos – a Ordem da Chama Azul – que atualmente é liderada por um grande arqui-mago do reino de Kamaro, um homem sábio chamado Sahlam.
- Já ouvi falar muito desta ordem e do mago que a lidera – disse Astreya – eles são grandes guardiães de nosso mundo, e possuem membros espalhados por toda Elgalor.
- Se para conseguir os amuletos fosse preciso apenas conversar com o mago – interrompeu Aramil – você não teria nos procurado. O que aconteceu com o tal Sahlam?
- Após um grande ataque de arqui-demônios que destruiu a sede principal da Ordem da Chama Azul, Sahlam simplesmente desapareceu - disse o Senhor dos Ventos com pesar na voz – isso foi há mais de um mês atrás, e apenas recentemente descobri o paradeiro dele.
- E quanto aos amuletos? – perguntou Hargor – estão perdidos?
- Não – respondeu o Senhor dos Ventos – Estou certo de que Sahlam os guardaria em um local menos óbvio, e ainda mais bem protegido.
- E onde ele está agora? – Perguntou Evan.
- No coração do mundo dos demônios – disse o Senhor dos Ventos – na dimensão que nós chamamos de Abismo.

Aramil, Hargor e Astreya já possuíam um conhecimento considerável sobre o local. Não que já tivessem ousado colocar os pés lá, mas seus estudos sobre o assunto lhes renderam informações tenebrosas, e a mera menção do nome aliada à constatação óbvia que eles teriam que se dirigir para lá fez com que os três sentissem um forte calafrio na espinha.
- Hahaha – zombou Aramil - você só pode estar brincando!
- Aramil! – repreendeu Astreya.
- Se ele está lá, não temos escolha alguma – disse Evan – partiremos o quanto antes.
- Fale por você, paladino! – disse Aramil zangado – não há nada além de fogo e morte naquele local, e se o mago realmente estava lá, ou já partiu, ou está morto.
- Se estivesse morto, nós saberíamos – respondeu Hargor – e poderíamos nos comunicar com seu espírito se fosse o caso. Ele provavelmente está sendo mantido preso em algum lugar para evitar justamente isso.
- Sim... – respondeu o Senhor dos Ventos – nas catacumbas subterrâneas de Magtherimoth.
- Magtherimoth é uma lenda – disse Aramil – A suposta Cidadela Comercial dos demônios e lordes Efreets é apenas uma lenda para atrair aventureiros tolos para os mercados de escravos existentes no Abismo.
- A cidadela é real, posso lhe garantir – respondeu o Senhor dos Ventos - Eu mesmo já estive lá uma vez.
- Então, já resolvemos o problema de achar o lugar – disse Hargor – mas as catacumbas...
- O que têm elas, Hargor? – perguntou Oyama.
- Segundo as lendas, existem 666 catacumbas abaixo de Magtherimoth – disse Astreya – e cada catacumba é mais ou menos do tamanho de Sírhion.
- De que tamanho é esta cidade? – perguntou Evan.
- SE ela existir mesmo – disse Aramil aborrecido – as lendas contam que seu tamanho equivale à área das Terras Sombrias.
- E por que seria tão difícil encontrar uma cidade deste tamanho e ver se ela realmente existe? - Perguntou Bulma já cansada de olhar para a lâmina de seu machado.
- Porque o abismo é cerca de 100 vezes maior do que o nosso mundo – Disse Hargor.
- E porque a cidade muda de lugar a cada mês, e é magicamente protegida contra detecções “indesejáveis” - Completou Astreya.
- Eu estou certo de que senti a presença de Sahlam sob as construções de Magtherimoth.
- Bom, então vamos para lá encontrar o mago e terminar logo com isso! – disse Oyama.
- Claro, e depois podemos aproveitar e destruir os Lordes do Inferno também... –ridicularizou Aramil – Vocês estão Loucos!
- É a única forma, Aramil - disse Astreya.
- Esta é uma missão suicida! – retrucou o mago.
- Então fique aqui trocando a fralda das crianças, covarde! – disse Bulma se levantando.
- Hahaha – gargalhou Oyama – Mas tome cuidado porque elas podem morder, Aramil! Talvez fosse melhor você pedir um destacamento de guerreiros para te proteger...
- Bulma, por que você não pega o Oyama e vão ambos para...
- Ele irá conosco! – disse Evan antes que Aramil terminasse o comentário que provavelmente eclodiria em uma pequena guerra naquele local – A rainha Meliann pediu que ele acompanhasse nossa comitiva, e Aramil não irá desonrar seu povo fugindo agora.
- Certamente que não – respondeu Hargor para encerrar o assunto – o que precisamos para sobreviver lá, Senhor dos Ventos?
- Aquela cidade é um dos poucos lugares respiráveis e não diretamente fatais dentro do abismo – Respondeu o sábio - Vocês poderão respirar normalmente, e a menos que deixem a cidade ou as catacumbas abaixo dela, o ambiente hostil do abismo não os afetará... muito.
- Como assim? – perguntou Oyama.
- Aquele local é impregnado de energia maligna, e haverá diversas criaturas ali que tentarão corrompê-los – respondeu o Senhor dos Ventos – vocês devem buscar informações da maneira mais discreta possível, e tentar encontrar Sahlam em menos de 4 dias.
- Por que “4 dias”? – questionou Hargor.
- Porque após isso, a cidade irá se mover novamente, e eu não tenho garantia nenhuma que seria capaz de encontrá-la novamente.
- Então se não sairmos em 4 dias... – disse Oyama.
- Teremos um novo e belo lar pelo resto de nossas vidas – respondeu sarcasticamente Aramil – não que isto será muito tempo, é claro.

- Eu não lhes pediria isto se houvesse outra forma de resolver o problema – disse o Senhor dos Ventos – sejam discretos, e não ofereçam nenhum tipo de pagamento por informações que não seja ouro ou jóias. Dever favores para aquelas criaturas se mostrará fatal, e na pior hora possível.
- E acima de tudo – continuou o sábio – Mantenham distância da bruxa conhecida como Babaiagha.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Postagem 200! - As Crônicas de Elgalor Capítulo IX: A caminho do Abismo (Prólogo)


Saudações, nobres visitantes. Sei que a tempos não posto nenhum pergaminho em meu humilde Cancioneiro, mas hão de convencionar que a pausa teve um bom motivo: comemorar a ducentésima postagem com o retorno das Crônicas de Elgalor! Espero que apreciem o prólogo deste novo capítulo, que marca uma nova fase de nossas aventuras... sem mais delongas, deixo-vos com a talentosa pena de Odin!

As Crônicas de Elgalor Capítulo IX: A caminho do Abismo (Prólogo)

Por ODIN.

- Astreya... – disse Evan suavemente – eu sinto muito, mas precisamos...
- Eu sei! – interrompeu a barda de maneira ríspida, mesmo contra a própria vontade.
Evan sabia que estava pedindo demais de Astreya naquele momento. Por conta disso, o paladino optou por dar um pouco mais de tempo para a amiga.
- Estarei lá em baixo com os outros – disse Evan saindo do quarto do rei e fechando a porta.
- Eu vou descer e dizer que você não vai – disse Meliann à Astreya, percebendo que a meio elfa olhava de forma atônita para seu amado que jazia inconsciente na cama – Vou pedir que um grupo de rangers e magos da guerra de Sindhar acompanhem seus amigos em seu lugar.
- Não é preciso, Meliann – disse Astreya retirando um belo punhal dourado de seu cinto.
- Você não quer ir – retrucou a princesa – e ninguém tem direito de obrigá-la ou mesmo de lhe pedir isso.
- Não, eu não quero – disse Astreya cortando uma mecha de seus cabelos negros e cacheados – Mas...
- “Mas...” – disse Meliann.
- Coran já sacrificou muito por conta de seu reino e de seus deveres – respondeu Astreya – por mais que eu queira ficar ao lado dele, teria vergonha de permanecer aqui em segurança enquanto meus amigos enfrentam a morte. Ele jamais deixaria suas responsabilidades sabendo que não poderia fazer nada por mim se a situação fosse o inverso. Preciso honrar o homem que amo...
- Meus soldados farão mais diferença onde seus amigos forem do que você, Astreya – disse Meliann tentando persuadir a meio elfa – Fique com ele!
- Durante minhas viagens – respondeu Astreya enquanto enrolava sua mecha de cabelo em um delicado fio de seda púrpura que amarrava seus cabelos – aprendi que em certas ocasiões, não precisamos ter cem homens, apenas um único homem que seja o homem correto. O Senhor dos Ventos pediu pela presença de meu grupo, e não pelos soldados de Sírhion ou Sindhar. Eu preciso ir.

Dito isso, Astreya colocou a mecha de cabelo dentro da camisa de Coran e deu um suave e carinhoso beijo nos lábios do rei. Meliann sorriu e se retirou do quarto, deixando Astreya e Coran a sós. “Admiro seu amor e sua fé” pensou a princesa de Sindhar ao se retirar.

Astreya deitou a cabeça no peito de Coran e chorou por cerca de dez minutos. Depois, foi até sue próprio quarto, lavou o rosto, vestiu sua cota de malha e seu manto de cor violeta e desceu até o Salão de Guerra de Sírhion.

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O Salão de Guerra de Sírhion era um espaço amplo, de paredes belamente adornadas com mármore, aço e prata. Bandeiras e brasões de clãs élficos estavam espalhados de forma ordenada por todas as paredes e janelas do salão, conferindo a ele um forte ar de imponência e austeridade. No centro, havia uma única mesa redonda feita de carvalho e mármore, com nove assentos exatamente iguais.

Em um dos assentos estava o Senhor dos Ventos, usando um longo manto cor de areia, e seus longos cabelos e barba brancos amarrados com finos anéis de cobres. Do seu lado direito estava Evan, já vestindo sua armadura de batalha azul e prateada. Do lado esquerdo estava o anão Hargor, também equipado com sua armadura de batalha cinzenta. Ao lado de Hargor estava Oyama, completamente suado devido ao treinamento árduo que terminara a pouco tempo atrás. Sentado ao lado do monge estava a bárbara Bulma, que olhava impacientemente para a lâmina de seu enorme machado. Ao lado da meio orc estava Thamior, alto clérigo de Sirhion, usando seus trajes cerimoniais. Distante de todos, estava o mago Aramil, usando seu manto verde esmeralda e seu cajado dourado.
- Porque ela está demorando tanto... – disse Oyama coçando a barba desgrenhada – será que podemos pelo menos pedir para uma elfas trazerem umas cervejas?
- Você não está em uma taverna de cidade de porto, Oyama – disse Aramil já tremendamente irritado com a demora de Astreya e com a falta de modos do monge – Na verdade, por que você não nos espera no estábulo ou no curral? Prometo que lhe compro um barril de cerveja se tirar este seu cheiro maldito de perto do meu nariz.
- Parem com isso vocês dois! - disse Evan – A propósito, onde está Tallin, Aramil?
- Bheleg a convocou – respondeu o mago – Ela faz parte de uma força especial de Sindhar, e aparentemente, Bheleg está reunindo os melhores soldados de sua tropa de elite para uma missão.
- Vou sentir falta dela... – disse Oyama com um leve sorriso.
- Tallin não era nenhum modelo a ser seguido – respondeu Aramil já imaginando o que passava pela mente de Oyama – mas ela só tocaria em uma... criatura como você para livrá-lo de suas poucas peças de prata, monge tolo.
-Tudo bem – gargalhou Oyama – considerando que eu guardo minhas economias no...

- Desculpem o atraso – interrompeu Astreya sem se dar conta da conversa em curso – Saudações, Senhor dos Ventos. Saudações, meus amigos.
- Você chegou em boa hora... – disse Thamior olhando para Oyama e Aramil – como está o rei?
- Adormecido – respondeu a barda ainda abatida ao sentar-se à mesa.

Neste momento, o Senhor dos Ventos curvou sua cabeça por um momento em um gesto de respeito pela situação do rei, e quando viu que Astreya estava prestes a falar algo, interrompeu-a dizendo:
- Farei o possível pelo nobre rei Coran. Prometo que irei descobrir o que está acontecendo com ele e como reverter a situação, dedicada barda. Peço-lhe perdão, mas agora precisamos tratar de outro assunto, pois nosso tempo é curto.
Astreya assentiu com a cabeça, e por alguma razão, as palavras do Senhor dos Ventos lhe trouxeram uma grande paz e alívio, ao menos naquele instante.

- Como sabem – disse o Senhor dos Ventos - o Rei Dragão despertou nas Terras Sombrias, e mesmo sem seu poder total, é uma ameaça tremendamente perigosa para nossos povos. Certamente, a maior que enfrentamos nos últimos 500 anos.
- O que exatamente é o Rei Dragão, Senhor dos Ventos? -perguntou Evan.
- Uma criatura profana, nativa da última camada do inferno – explicou o Senhor dos Ventos – metade arqui-diabo, metade dragão vermelho. Após uma terrível batalha de mais de três dias e três noites, ele havia sido morto por um dragão dourado grande ancião chamado Mycen. Ao final do confronto, Mycen sacrificou sua vida para aprisionar a alma do Rei Dragão nas profundezas do Limbo.
- De alguma forma – continuou o Senhor dos Ventos – talvez, através da intervenção do próprio deus dos orcs, a alma do Rei Dragão despertou e conseguiu se libertar de sua prisão no limbo. Com a ajuda de diversos clérigos negros e dragões que o servem, conseguiu também assumir uma forma material enfraquecida em nosso mundo.
- Se a forma material enfraquecida dele foi capaz de matar o rei Balderk – disse Hargor – precisamos liquidá-lo antes que assuma seu poder total.
- E quanto tempo exatamente temos para isso? – Perguntou Astreya ao Senhor dos Ventos.
- Seis meses no máximo - respondeu o sábio – durante este tempo, ele provavelmente permanecerá em sua fortaleza oculta nas Terras Sombrias, acumulando energia e se recuperando, obviamente protegido por seus servos mais poderosos.
- Porém, - continuou o Senhor dos Ventos - neste meio tempo, ele está reunindo um exército avassalador nas Terras Sombrias, que sob seu estandarte, marchará sobre o reino de Kamaro e em seguida, varrerá toda Elgalor.
- Você não nos chamou aqui para lidar com o exército dele – disse Aramil com frieza na voz – o que exatamente quer de nós desta vez?
- Está certo, nobre Aramil - respondeu o Senhor dos Ventos ignorando o tom arrogante do mago - chamei-os aqui para outra missão. Os grandes reis e generais dos povos livres irão lidar com o exército de orcs, dragões e abominações do Rei Dragão.

- Vocês – disse o Senhor dos Ventos em um tom sério e preocupado enquanto se levantava - empreenderão uma busca muito mais importante. Uma contenda que, sem exagero, definirá o destino de toda nossa existência...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

As Crônicas de Elgalor - comunicado

Saudações nobres leitores! Nesta noite de quinta-feira venho lhes trazer um comunicado (e também uma canção ao final deste pergaminho!). Aqueles de vós que entram em meu Cancioneiro e leem as Crônicas de Elgalor devem estar sentindo falta dos próximos capítulos. Digo-vos que as crônicas não morreram! O alter-ego de Odin está apenas atarefado demais com seus compromissos como professor e retomará a escrita a partir de janeiro. Enquanto isso convido-os mais uma vez para fazer o download gratuito da primeira parte dessa saga! Basta clicar AQUI!

Convido-os a virar a página, sempre que possível, para conhecer novos mundos!



Turn the page - Blind Guardian

Até breve, nobres aventureiros!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte Final)


Saudações, bravos companheiros. Chegamos hoje à parte final do tenso capítulo "A Guerra dos Reis". Espero que apreciem e guardem vossas orações aos que tombaram e foram feridos em alma e espírito por esses acontecimentos. Sem mais delongas, vamos ao texto.

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte Final)

Por ODIN.

Meliann estava orgulhosa de si mesma até aquele ponto da história de Astreya; ela não sentira vontade de chorar ou tapar os ouvidos, e apesar de criar imagens mentais de cada acontecimento narrado pela trovadora real de Sírhion, ela manteve seu medo totalmente sob controle. Até o momento em que Astreya disse: “Depois disso, o inferno caiu sobre nós”.

Neste momento Astreya fez uma pequena pausa para sentir como Meliann estava reagindo à história. A princesa de Sindhar começou a enrolar compulsivamente uma mecha de seus belos cabelos dourado-prateados enquanto sentia seu coração começar a parar. Apesar disso, ela se manteve firme e fez um gesto gentil com a mão para que Astreya continuasse. E assim fez a meio elfa:

“ De onde eu estava era difícil ver o que acontecia em todo o campo de batalha, mas as tropas de Thurxanthraxinzethos e de seu mestre avançaram impiedosamente sobre os exércitos de Darakar, que também não mostraram piedade contra seus recém chegados inimigos. Agora, os exércitos dos elfos faziam o possível para atravessar o turbilhão de orcs que formava o gigantesco exército de Skarr. Evan avançou com as tropas de Sírhion de maneira implacável, e seu lobo celestial decapitou pelo menos quarenta orcs pelas contas de Tallin. Bheleg conduziu pessoalmente as forças de Sindhar em uma formação de ponta de lança, tentando rasgar as linhas de defesas dos orcs de forma que não fossem cercados e massacrados pelos flancos. Ele e Evan trabalharam bem juntos, e conseguiram impedir que nossos exércitos fossem completamente “destroçados”, como diria Oyama. Aramil, para minha surpresa, ficou no combate até o final, protegendo nossas tropas contra os sopros dos dragões ao lado dos magos reais de Sindhar e de um contingente de clérigos anões. A situação não era tão desesperadora quanto poderia ser, mas houve momentos em que mesmo Tallin e eu, que estávamos mais na retaguarda, estávamos banhadas em sangue e tropeçando em membros decepados. Por duas vezes, eu quase vomitei. Mas no fundo sabia que cada orc que eu conseguisse derrubar com minha espada ou com meus encantamentos (não foram muitos) era um orc a menos que flanquearia meus amigos no instante seguinte.

Vi pouco da batalha de Balderk contra o Rei Dragão. Pelo que Hargor me descreveu mais tarde, os dois se mantiveram em uma disputa equilibrada por poucos minutos, pois o Rei Dragão era mesmo poderoso como um semi-deus. Após diversos bloqueios e troca de golpes de ambos os lados, A lança do Rei Dragão emitiu um forte brilho vermelho, e foi capaz de atravessar o escudo e a armadura de Balderk e perfurar impiedosamente o coração do nobre rei. Antes de tombar, Balderk rasgou o lado direito do rosto do Rei Dragão arrancando-lhe o olho e um dos chifres. Mas, para o nosso horror, a lança do Rei Dragão brilhou mais uma vez, e a alma de Balderk foi sugada, presa em uma das jóias incrustadas na lâmina da arma. Após matar Balderk, o Rei Dragão simplesmente desapareceu do campo de batalha, ao som de gargalhadas de deboche.

Naquele momento, os anões pareceram explodir em um turbilhão de ódio e vingança, e uma matança ainda maior ocorreu naquele local. Oyama, Bulma e Hargor lutavam com todas as forças para deter o avanço do exército de meio dragões de Thurxanthraxinzethos. Segundo Hargor, Oyama matou mais de dez meio dragões mesmo depois que teve seu braço esquerdo quebrado, e Bulma estava em um estado de fúria tão medonho que após ser engolida por um dos dragões no meio do combate, ela de alguma forma rasgou o ventre da criatura de dentro para fora com seu machado, e mesmo estando com ossos quebrados e com os músculos rasgados pelas presas do dragão, ainda lutou e conseguiu matar mais três meio dragões. O combate de Durin e Thurxanthraxinzethos estava absurdamente acirrado pelo que ouvi. Ambos lutaram por muito tempo, mas não houve vencedor no embate.

Agora... o que realmente prendeu minha atenção... Após abrir caminho entre bárbaros orcs e guerreiros élficos, Coran e Skarr se encontraram no campo de batalha. Lembro-me que Skarr gargalhou e lançou um insulto à memória de Thingol, mas antes de terminar teve que se esquivar bruscamente para não ser decapitado pela espada de Coran. O machado de Skarr era poderoso, mas a espada de Coran, a Lâmina de Gelo, é a arma mais poderosa já forjada pelos elfos de Sírhion, e foi capaz de resistir ao machado de Skarr da mesma forma que o machado de Balderk fizera antes. Tentei me aproximar para ajudar Coran, mas quase fui pisoteada até a morte no meio do caminho. E se não fosse por Tallin e depois pela magia de Aramil que nos tirou daquele local e nos levou para uma colina próxima, eu não estaria aqui. Coran e Skarr lutaram em um embate tão equilibrado quanto o de Durin e Thurxanthraxinzethos. Ambos eram combatentes extremamente experientes. Veteranos de inúmeros campos de batalha e os melhores homens de armas que suas raças tinham a oferecer. Contudo, após quase cortar fora o braço esquerdo de Skarr com sua espada, Coran foi atingido por um murro da manopla de ferro de Skarr. Coran foi capaz de resistir à magia desintegradora da manopla, mas teve seu nariz esmagado e perdeu a visão por uma fração de segundo. Isto foi o suficiente para que Skarr o derrubasse com uma rasteira e desferisse um ataque devastador com seu machado. Devido ao reflexo ou à experiência, Coran bloqueou o golpe com o escudo, mas foi arremessado para trás com o impacto e teve seu braço direito quebrado no processo.

Skarr já não conseguia usar o machado com ambos os braços por causa do ferimento que sofrera, mas avançou furiosamente, e mesmo empunhando sua arma com apenas uma das mãos, a força de seu ataque e sua precisão ainda eram devastadoras. Quando ele chegou a cerca de um metro de Coran, desferiu um golpe mortal antes que ele pudesse levantar-se. Neste instante, Coran usou toda a força que tinha para se levantar, e se desviou alguns centímetros para a direita. O machado de Skarr rompeu a armadura de Coran, atravessou seu ombro direito e lhe arrancou o braço que estava quebrado. Neste exato momento, Coran usou seu outro braço para cravar sua espada de baixo para cima na cabeça de Skarr. A Lâmina azulada de Coran atravessou a mandíbula de Skarr e rompeu pelo crânio do maldito. Os dois caíram no chão completamente destruídos.

O local onde Coran tombou quase morto foi envolvido por uma sombra escura e avermelhada, que o envolveu totalmente e deixou uma marca vermelha na forma de uma terrível cicatriz no lado direito de seu rosto. Coran estava inconsciente, mas mesmo assim urrou de dor. Eu gritei desesperada, e quando achei que nada poderia piorar, Skarr começou a se levantar e gargalhar, com uma cicatriz idêntica à de Coran.

Foi apenas neste instante que a jóia que o Senhor dos Ventos me deu começou a brilhar. Eu a empunhei, e ela emitiu uma luz branca que parecia envolver todos naquele campo de batalha. Senti que poderia fazer um único desejo e que se este fosse “certo”, a jóia iria atendê-lo. O Senhor dos Ventos havia me avisado que o poder da jóia era alimentado por amor, e que eu não poderia ser egoísta. Chorei e sufoquei o ódio que sentia por Skarr e pelo Rei Dragão. Removi temporariamente a imagem de Coran agonizando e desejei que todos ali voltassem para seus locais de origem.

A luz se intensificou, e a próxima coisa que vi foram Evan, Tallin e o corpo de Coran ao meu lado nas casas de cura de Sírhion. Thamior já estava lá como se pressentisse algo, e curou rapidamente o corpo de Coran. Mas mesmo com todo seu poder e conhecimento, ele ainda não foi capaz de determinar o que é esta marca no rosto de Coran e qual sua ligação com Skarr. Poucas horas depois descobri que Aramil e Bheleg estavam bem em Sindhar, da mesma forma que Hargor, Oyama, Bulma e Durin em Darakar. Todos os soldados, vivos ou mortos, reapareceram magicamente em seus reinos de origem graças ao poder da jóia. Não tivemos notícias do Rei Dragão, Thurxanthraxinzethos ou de Skarr.

Como você já sabe, os reinos de Sírhion, Sindhar e Darakar estão em um luto de três dias, no qual serão velados e honrados todos os nossos guerreiros tombados. Pelo que Hargor me disse, Durin realizou aquilo que os anões denominam “Chamado do Trovão”, uma convocação que todos os anões em Elgalor responderam e se dedicarão à guerra de extermínio de todos os inimigos dos anões. O Alto Conselho de Sindhar ainda não tomou nenhuma decisão em relação a isto e estamos esperando que Coran acorde para saber qual será a posição de Sírhion.”


- Isso foi tudo que aconteceu durante sua ausência, princesa Meliann – disse Astreya enxugando as lágrimas que começavam a se formar em seus olhos.

Meliann estranhamente não chorava. Ela estava em um estado de choque tão profundo que parecia não sentir absolutamente nada a seu redor.
- Eu... eu sinto muito – disse Meliann se levantando e abraçando Astreya como se tudo aquilo fosse um grande pesadelo.
- Tudo... – vai ficar bem – disse Astreya mais para si mesma do que para Meliann.

- Com licença – ambas ouviram uma voz familiar do outro lado da porta do quarto. Era Evan.
- Entre – disse Astreya se levantando.
Evan entrou e fez uma reverência na direção da cama onde estava Coran.
- Sei que esta é uma hora de pesar e tristeza – disse o paladino da forma mais suave possível – mas algo terrível está acontecendo nas Terras Sombrias. O Senhor dos Ventos está no Salão de Guerra de Sírhion e precisa que saiamos em missão urgentemente.

- Detesto dizer isso, Astreya – continuou o paladino – mas não nos será permitido orar por nossos mortos e cuidar de nossos feridos agora. Por mais difícil que seja, precisamos nos reunir e partir em missão imediatamente...

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte 13)


Saudações nobres viajantes. Nesta noite trago mais um capítulo das Crônicas de Elgalor. Sem mais delongas, boa leitura e que os ventos da boa fortuna vos acompanhem!

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte 13)

Por ODIN.


Meliann se sentou ao lado de Astreya e pela primeira vez realmente se deu conta de que o rei Coran Bhael, o mas poderoso guerreiro élfico de Elgalor, jazia inconsciente em sua cama, coberto por um lençol branco e com uma terrível cicatriz vermelha que lhe cortava o lado direito do rosto e provavelmente privara o rei de um de seus olhos. Meliann sentiu um imenso desconforto, e um grande ímpeto de perguntar o que havia acontecido com ele. Mas a princesa sabia que quando fosse a hora, Astreya contaria tudo.
- Por favor – disse Meliann respirando fundo – comece a história. Prometo que não a interromperei até que termine.

Astreya olhou uma última vez para Coran e começou a história mais triste que já teve que registrar em toda sua vida:

“Pouco depois que Skarr... matou seu valoroso pai, o machado sangrento voltou para sua mão e começou a regenerar um pouco de seus ferimentos, como se o sangue derramado do nobre rei Thingol estivesse curando o monstro. Quando se sentiu em condições de andar, praguejou algo em seu idioma, algo que não pude ouvir, e se aproximou do corpo já inerte de seu pai, para castigá-lo ainda mais. Foi neste momento que você desmaiou.

Neste instante, uma luz dourada rompeu do céu e envolveu o corpo de Thingol. Skarr tentou se aproximar, mas a luz parecia queimá-lo ao menor toque, o que o fez recuar. A luz brilhou mais forte, e quando desapareceu, o corpo de seu pai também havia desaparecido junto. Apenas neste momento, a barreira que isolava a “arena” onde Skarr e os reis lutaram se desfez.

Orcs, elfos e anões gritaram ferozmente, e um combate como eu nunca havia antes presenciado teve início. Posso estar enganada, mas a fúria de todos ali era tão grande, que após os primeiros segundos de confronto já se podia contar dezenas de corpos queimados, decapitados e desmembrados no chão. Os orcs lutavam como bestas selvagens e sanguinárias, mas elfos e anões também não demonstraram nenhuma misericórdia. Bheleg entregou você com cuidado a um de seus magos reais, Alenonn, eu creio, e pediu que Alenonn a tirasse dali enquanto ele ordenou a seus arqueiros que abatessem Skarr naquele exato instante, antes que o monstro pudesse ser restaurado. Contudo, o caos já havia tomado conta do campo de batalha, e não foi possível encontrar Skarr no meio da multidão, até que vimos um imenso pulso de energia avermelhada rompendo do chão enquanto diversos orcs morriam queimados em agonia. Como Hargor posteriormente me explicou, aquilo era um ritual de sacrifício empreendido por algum clérigo orc, onde diversos orcs tiveram suas energias vitais consumidas de forma macabra para que Skarr fosse plenamente curado.

Ao final do rápido ritual Skarr gargalhou e se lançou no coração da batalha como uma besta do inferno, matando inclusive os homens de seu exército que estavam no caminho. Havia literalmente centenas, talvez milhares de orcs que inconscientemente formavam uma barreira entre nossos guerreiros mais poderosos - Balderk, Durin, Coran e Bheleg - e o maldito Skarr. Ainda assim, os quatro imaginaram que se Skarr não fosse abatido logo, muitos elfos e anões valorosos teriam suas vidas ceifadas. Naquele momento, cada um tentou abrir caminho e encurtar a distância entre si e o monstro.

Na ocasião eu estava perto de Coran e Bheleg, e Coran ordenou a Evan que liderasse a vanguarda das forças de Sírhion em outro fronte enquanto ele avançava para interceptar Skarr. Eu implorei para que ele me deixasse ir junto, mas ele insistiu que eu voltasse junto com Alennon e você para Sindhar. Recusei e quando tentei segui-lo, senti o braço de Evan me puxando, dizendo que eu seria mais útil curando nossos soldados feridos, e que eu não teria condições de atravessar aquele corredor de orcs sem atrasar muito Coran. Frustrada, me juntei à Tallin e fiquei próxima a Evan enquanto ele conjurava seu lobo celestial e conduzia as forças de Sírhion a um ataque ao flanco leste dos orcs. Compreendendo que apenas ele poderia liderar as forças de Sindhar, Bheleg praguejou, desistiu de tentar alcançar Skarr, e conduziu seus homens ao flanco sul dos orcs. Considerando que os exércitos de Darakar já haviam tomado o flanco norte e oeste com a ajuda de Bulma, Oyama e Hargor, os orcs seriam sumariamente esmagados assim que o cerco se completasse, mesmo estando em um número quase duas vezes maior do que o nosso. Seria uma batalha ainda mais dura e impiedosa, perderíamos muitos de nossos bravos soldados e não saberíamos quem chegaria à Skarr, mas nossa “vitória”, apesar de cara, parecia uma mera questão de tempo.

Até que o céu escureceu por completo e um anel de fogo se formou atrás do destacamento principal dos anões. Naquele momento, o vento começou a soprar mais forte e trouxe consigo gritos de desesperos, choros e palavras nefastas carregadas do mais puro ódio. Do anel de fogo surgiu uma legião com quase três mil guerreiros enormes e fortemente armadurados. Eram meio dragões, que usavam armaduras negras e vermelhas, e carregavam lanças, machados e espadas; seus rostos eram cobertos por elmos em forma de crânio desfigurados por cicatrizes macabras, À frente das tropas, não havia ninguém menos do que o maldito Thurxanthraxinzethos. Mas não foi ele, ou aquele enorme exército que realmente nos assustou.

O chão se abriu poucos metros à frente de Thurxanthraxinzethos e de seu terrível exército, criando uma nuvem fétida de fogo e fumaça. Quando a fumaça se dissipou, pudermos ver um ser enorme, com mais de três metros de altura, trajando uma armadura negra repleta de farpas metálicas e crânios cravados como se formassem grotescas ombreiras. Seu elmo fechado tinha a forma do rosto de um demônio, com longos chifres verticais. Os olhos da criatura eram vermelhos e incandescentes, e ele possuía imensas asas negras, idênticas às de um morcego, mas muito maiores. Em sua mão esquerda ele carregava um escudo de corpo negro que exibia dezenas de rostos desfigurados em um constante movimento de pura agonia. Em sua mão direita, uma gigantesca lança machado coberta de runas mágicas e encantamentos profanos. Mesmo estando há mais de um quilômetro de distância dele, pude ver sua imagem com uma exatidão terrível e perturbadora. Pior, tive a impressão que todos naquele campo de batalha haviam visto o mesmo que eu, pois depois percebi que a criatura estava fisicamente ali, mas, além disso, havia de alguma forma projetado sua imagem macabra dentro de nossas almas e corações.

Aquele era o Rei Dragão, o mestre de Thurxanthraxinzethos e aquele que, de acordo com as profecias do Senhor dos Ventos, cobriria nosso mundo com uma mortalha de escuridão. Ele apontou sua lança na direção de Balderk, e o bravo rei dos anões, já curado por seus clérigos olhou em desafio a ele como poucos ali seriam capazes e aceitou o desafio, enquanto o recém chegado exército da escuridão se juntava aos orcs contra elfos e anões. No meio do caos e da morte, Durin se lançou em combate singular contra Thurxanthraxinzethos, pouco antes do machado de Balderk encontrar a lança do Rei Dragão. Skarr gargalhou e começou a ir em direção a Coran.

Depois disso, o inferno caiu sobre nós..”

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte 12)


Depois de um longo e sofrido hiato, com pesar em meu coração pelos trágicos acontecimentos narrados abaixo, trago-vos nesta noite mais um capítulo das Crônicas de Elgalor. Boa leitura, e que os ventos do sucesso vos acompanhem, amigos...

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte 12)

Por ODIN.

- NÃÃÃÃOOO! - gritou Meliann com toda sua força ao ver o machado de Skarr partindo ao meio o corpo de seu pai. A jovem princesa começou a chorar e soluçar compulsivamente, e tudo começou a girar ao redor dela.

Uma profunda escuridão tomou conta de Meliann, de forma que a última coisa que a bela barda viu foi o enorme machado sangrento retornar magicamente às mãos desfiguradas de Skarr, que apesar de toda a dor e de mal conseguir permanecer de pé, exibia um largo e sádico sorriso em seu rosto completamente destroçado pelas lâminas de gelo da magia final de Thingol Shaeruil. Quando a escuridão finalmente tomou conta de Meliann, ela apenas ouviu gritos, tambores e cornetas de guerra. Os sons ensurdecedores logo cessaram, e ela pôde apenas sentir os braços de Bheleg a segurando enquanto suas pernas subitamente perderam toda a força.

Após isto, o inferno literalmente tomou conta do Vale do Escudo Partido, e a bela princesa de Sindhar não via, ouvia ou sentia mais absolutamente nada.

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- O... o que aconteceu – disse Meliann abrindo os olhos e sentindo uma leve brisa e um fino raio de sol tocando a pele de seu rosto. Ela olhou ao redor e viu que estava deitada em sua cama, nos seus aposentos reais de Sindhar.

- Sente-se melhor? – ecoou uma suave voz vinda da porta. Meliann não teve dificuldades para saber quem era.
- Elenna – disse a princesa se levantando, ainda sentindo as pernas tremerem – por todos os deuses, me diga que eu apenas tive um pesadelo e que nada aconteceu!
- Sinto muito – disse a jovem elfa baixando cabeça.
- Meu pai... – disse Meliann levando as mãos ao rosto enquanto lágrimas vertiam intensamente de seus belos olhos verdes – meu pai está morto...
Elenna se aproximou para confortar Meliann, quando a princesa saltou desesperada da cama e agarrou os braços da amiga.
- Onde está Bheleg?! – perguntou Meliann desesperada, como se pressentisse algo terrível – Onde está ele?!
- Meu tio está bem, Meliann – respondeu Elenna calmamente, vendo que parecia que a amiga entraria em colapso a qualquer momento – ele está bem. Só não está aqui porque está em uma reunião com o Conselho de Magos.

Ao ver que Meliann parecia um pouco mais calma, Elenna continuou:
- Lorde Aramil possui uma espécie de testamento que seu pai deixou, e nele havia instruções caso... o pior ocorresse, que ajudariam você a governar Sindhar até que...
- Eu não quero saber de nada disso agora – interrompeu Meliann de maneira violenta – eu quero ver o corpo de meu pai e saber TUDO o que aconteceu quando eu desmaiei como se fosse uma criança idiota...
Elenna observou a reação de Meliann e notou que agora uma grande raiva e sentimento de culpa cresciam no coração da amiga.
- Eu sei como se sente – disse Elenna – quando os orcs começaram a avançar e os demônios e dragões surgiram do nada...
- Demônios e dragões? – interrompeu Meliann novamente.
- Sim – continuou Elenna – quando tudo começou, Cardhan, um de nossos magos reais, me teletransportou de volta para cá com mais alguns jovens guerreiros que ainda não haviam participado de uma batalha real. Eu também não fiz absolutamente nada.
- E quanto a meu pai? – perguntou Meliann sentindo-se um pouco mais calma ao ver a expressão de decepção estampada no rosto de Elenna.
- Um feixe de luz dourada surgiu do céu – disse Elenna - e levou o corpo dele antes que Skarr pudesse... desrespeitá-lo.
- Eu quero este desgraçado morto! – disse Meliann novamente enxugando os olhos enquanto outro surto de raiva incendiava seu coração – mas agora quero apenas saber o que houve. Há alguém aqui além dos altos magos ou seu tio que possa me explicar?
- Não... – respondeu Elenna – mas eu conheço alguém que pode.
- Quem? – questionou Meliann enquanto tirava sua camisola e vestia um de seus belos vestidos reais.
- Astreya Annathar. A trovadora real de Sírhion.
- Por favor, chame um mago e peça para que ele me leve até lá em alguns minutos – disse Meliann enquanto terminava de se aprontar e pentear seus cabelos.
- Pode deixar – disse Elenna virando-se e saindo do quarto. Ela estava realmente incomodada por causa da maneira fria e egoísta como a amiga havia se comportado, mas sabia que a dor que Meliann sentia naquele momento era imensa, e que com o tempo a princesa voltaria a seu estado normal.

Assim, pelo menos, Elenna esperava.


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- Vá descansar, Astreya – disse o clérigo Thamior – eu cuidarei do rei, e você pode terminar isto amanhã.
- Obrigada, mas não – disse Astreya sentada em uma bela escrivaninha com uma pena prateada na mão, e vários potes de tinta ao lado, enquanto escrevia quase que compulsivamente um enorme pergaminho – Não sairei de perto de Coran até que ele abra os olhos, e só vou parar de escrever quando não houver mais tinta ou quando meus dedos caírem.

Astreya e Thamior estavam no quarto do rei Coran. O rei jazia deitado inconsciente em sua cama, com uma terrível cicatriz vermelha que cortava o lado direito de seu rosto, e que aparentemente havia tirado a visão do olho direito de Coran.
- Já fizemos tudo o que podíamos, Astreya – disse Thamior gentilmente colocando a mão sobre o ombro da barda – se houver alguma melhora eu lhe aviso. Agora, por favor, volte para seus aposentos e durma um pouco.
- Você conseguiria dormir se estivesse no meu lugar, Thamior? – perguntou Astreya tentando não descontar no amigo o peso que a tristeza e o cansaço estavam lhe impondo.
- Muito bem – disse o clérigo por fim – irei me retirar e deixá-la sozinha com o rei. Se precisar de algo, basta chamar.
- Obrigada, disse a barda voltando-se para o pergaminho onde registrava minuciosamente tudo o que havia ocorrido no dia anterior.

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Três horas haviam se passado desde que Thamior deixara Astreya sozinha. A barda sentia sua visão começar a falhar por causa da exaustão causada pelo fato de ter passado a noite anterior em claro ao lado de seu amado, mas só parava de escrever para acariciar os cabelos de Coran ou para cantar um pouco para ele. Quando a barda se levantou para pegar um copo de água da jarra que se localizava ao lado da cama do rei, ela ouviu alguém bater à porta.
- Pode entrar – respondeu Astreya com educação, mas sem nenhum ânimo.
- Com licença – disse Meliann de forma polida ao entrar no aposento.

Meliann de imediato viu o estado do rei Coran, e ao ver a expressão no rosto de Astreya se deu conta de que ela não era a única pessoa que estava sofrendo por causa do que havia ocorrido. “Devo desculpas a Elenna” pensou a princesa de Sindhar.
- Eu sinto muito pelo seu pai, Meliann – disse Astreya com suavidade e sinceridade – ele era um grande homem.
- Sim, ele era – respondeu a princesa com a cabeça baixa – e eu sinto muito pelo que ocorreu com o rei Coran.
- Obrigada – disse Astreya – mas o que veio fazer aqui, vossa alteza?
- Não me chame assim – disse Meliann bruscamente – eu sou apenas a filha de um grande rei. Isto por si só não me torna uma verdadeira princesa.
- Acho que entendo o que lhe aflige... – disse Astreya após alguns momentos de silêncio – mas você não deve ser dura demais consigo mesma. Você não teve culpa nenhuma do que aconteceu ou por ter desmaiado. Eu mesma quase desmaiei naquele momento.
- Mas não desmaiou – interrompeu Meliann – e apesar de agradecer sua gentileza e compaixão, não foi por isso que vim até aqui.
Meliann virou um pouco o rosto e olhou para o longo pergaminho que Astreya escrevia.
- Entendo... – disse Astreya.
- Imagino como você está se sentindo por causa do rei Coran – disse Meliann fitando os olhos de Astreya – mas por favor, eu PRECISO saber o que houve, e porque mais da metade dos soldados de meu pai perderam suas vidas.
- Muito bem – respondeu Astreya empurrando uma bela cadeira na direção de Meliann – sente-se, pois esta é uma longa história.
- Muito obrigada – disse Meliann sentando-se de frente para Astreya.
- Não me agradeça, Meliann – disse Astreya em um tom triste e melancólico – porque o que vou lhe contar provavelmente vai ficar gravado em sua mente por toda sua vida, por mais que você tente esquecer...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte 11)


Saudações amigos. Hoje trago-vos o incrível desfecho do combate entre Skarr e Thingol. Sem mais delongas digo-vos que leiam rapidamente; valerá muito a pena. Que os ventos da fortuna soprem sempre a vosso favor, caros aventureiros!

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte 11)

Por ODIN.

Skarr era arrogante, mas definitivamente não era tolo ou burro. Sabia que Thingol ainda tinha algum truque escondido, e decidiu que não daria tempo para que o mago o colocasse em prática. Apesar de sua fúria assassina encobrir de forma muito eficaz a dor que sentia, Skarr se irritava ao perceber que sua mente ainda estava lenta por causa da névoa de Thingol. Esta constatação apenas aumentou a fúria do poderoso orc, que rugiu como um leão e disparou na direção de Thingol como um predador a instantes de destroçar sua presa.

Thingol sabia que além de mortalmente forte, Skarr era muito rápido; o machado do orc estaria trespassando seu corpo em poucos instantes, e nem mesmo suas magias mais poderosas seriam capazes de destruir o corpo de Skarr em um intervalo de tempo tão curto. O Alto Rei dos elfos respirou fundo tentando ignorar a tontura e fraqueza que sentia por causa do ferimento que sofrera. Thingol estendeu sua mão para Skarr e com absoluta frieza e convicção proferiu algumas palavras no idioma dos elfos. Quando Skarr estava a menos de nove metros de Thingol, ele sentiu todos os músculos e ossos de seu corpo travarem, e bruscamente parou sem conseguir mais avançar.

- MALDITO! - rosnou Skarr ainda mais furioso e frustrado por não conseguir se mover – meu cinturão... deveria me proteger... disto...
- E protegeria – respondeu Thingol friamente – SE sua mente não estivesse entorpecida por causa de minha névoa.
Apesar de estar próximo demais de Skarr, Thingol sabia que simplesmente andar para trás iria abrir ainda mais seus ferimentos, e ele não poderia se dar ao luxo de conjurar mais uma magia para se afastar de Skarr magicamente pois ele se arriscava a desmaiar de exaustão a cada novo encantamento que conjurava por causa do sangramento constante que drenava rapidamente suas energias. Ele teria que terminar aquilo agora.
- Quando eu ... colocar as mãos em você... – rosnou Skarr reunindo toda sua força de vontade para se libertar – você vai implorar pela morte...
- Cale-se verme – disse Thingol sentindo uma forte vertigem enquanto estendia novamente sua mão na direção de Skarr – cale-se e morra!

Com a mão estendida e totalmente aberta, Thingol começou a recitar um encantamento no idioma dos elfos. Apesar de seus esforços, ele não foi capaz de esconder a grande dor que sentia e os mais atentos percebiam que as pernas do rei élfico já começavam a tremer por causa da fraqueza. Aquela certamente seria sua última magia.
O ar ao redor de Skarr começou a se tornar frio e lentamente congelou completamente o chão e os pés do feroz orc enquanto pequenos cristais de gelo começaram a se formar ao redor dele.
- HAHAHA – gargalhou Skarr com desprezo – acha... que uma prisão de gelo vai... ser capaz de me matar?
- Não – respondeu secamente Thingol – mas isto vai.
Subitamente, os cristais de gelo começaram a se multiplicar e a crescer; em poucos instantes, Skarr estava cercado por centenas, e depois por milhares de cristais do tamanho de punhais, e tão afiados quanto. Ao ver aquilo, Skarr rugiu e novamente tentou se libertar.

Mas não conseguiu.
- Morra! – disse Thingol lentamente fechando sua mão.
Quando a mão de Thingol se fechou completamente, todos os cristais de gelo se lançaram contra o corpo de Skarr, perfurando impiedosamente cada centímetro do seu corpo. Skarr urrou de dor enquanto sentia as lâminas de gelo atravessarem seus olhos, rins, pulmões e cada fibra de seu corpo.

- Muito bom – admitiu o rei Balderk a seus guerreiros enquanto assistia atentamente à batalha – pensei que Thingol não seria capaz de sair dali vivo, mas parece que o desgraçado realmente sabia o que estava fazendo.

- Nossa, esta deve ter doído muito – disse Oyama enquanto gargalhava – eu já estava quase apostando minha barba que Thingol não veria o sol nascer amanhã, mas...
- Se Skarr conseguir se libertar antes de morrer por causa de sua fúria, o elfo realmente não vai ver o sol nascer amanhã – disse Bulma em um tom sombrio e preocupado.
- Cale a boca, Bulma – respondeu Hargor em um tom seco e hostil, que demonstrava que ele também pensara naquilo.

- Isso, meu pai! – disse Meliann quase sentindo pena de Skarr, mas aliviada ao ver que seu pai detinha o controle da situação.
- Ainda não terminou – observou Bheleg ainda tenso – mas a vitória certamente será de nosso rei.
- Tenho fé nisso, Bheleg – disse Astreya ainda tensa enquanto apertava com força a mão de Coran.
- Evan, mantenha-se a postos – disse Coran observando atentamente os últimos momentos do combate – assim que Skarr tombar, seu exército irá cair como uma tempestade sobre nós.
- Estamos todos prontos – respondeu o paladino meio elfo – e tenho certeza que os guerreiros de Bheleg e de Balderk também estão.
Bheleg apenas assentiu com a cabeça, enquanto tentava observar Meliann e Thingol ao mesmo tempo.

- Pelos deuses – disse Elenna impressionada com os gritos de Skarr, mas extremamente atenta ao estado de Thingol – o rei está quase perdendo a consciência, mas ele certamente mandará este orc imundo para o inferno antes de dobrar os joelhos. Mas uma coisa eu não consegui entender até agora...
- Apenas uma? – respondeu Aramil com o habitual desinteresse.
- Hahaha, muito engraçado, senhor dos insuportáveis – respondeu Elenna em tom de deboche – Por que o rei não permitiu que meu tio Bheleg ou mesmo Coran lutassem em seu lugar? Não haveria desonra alguma se ele fosse representado por seu general ou por outro rei dos elfos.
- Muito bem... – disse Aramil se virando para a jovem sobrinha de Bheleg – você não vai parar de me incomodar com este assunto, não é?
- Não – respondeu a jovem – porque eu sei que você, ao contrário dos outros, sabe de alguma coisa.
- O rei na verdade já sabia sobre o desafio antes que eu e meus seguidores o alertassem sobre tudo – disse Aramil em um tom pensativo – quando chegamos em Sindhar, ele já havia feito quatro rituais de adivinhação que lhe garantiram muitas informações sobre os pontos fortes e fracos de Skarr, além de outra informação bastante preocupante.
- Que era... – questionou Elenna sentindo seu coração palpitar cada vez mais rápido.
- Que Skarr era poderoso demais – continuou Aramil – que ele certamente mataria Coran ou Bheleg caso um dos dois o enfrentasse em combate singular. De acordo com os oráculos do rei, o único guerreiro em Elgalor que teria uma chance de vitória contra Skarr era Balderk I. Thingol, como o mago mais poderoso de Elgalor, tinha uma chance pequena, porém real, de derrotar Skarr. E isto já era muito mais do que Coran ou Bheleg teriam. Em toda sua sabedoria e compaixão, Thingol não desejava que Sírhion perdesse mais um rei, mesmo levando em conta as desavenças recentes entre ele e Coran.
- E quanto a meu tio...? – perguntou Elenna sentindo seus olhos se encherem de lágrimas.
- O rei tem grande apreço por seu tio – respondeu Aramil – mas a razão principal que fez com que Thingol desejasse proteger Bheleg foi o fato do rei ter percebido os sentimentos de Meliann em relação a seu tio. Thingol sabia que se ele fosse derrotado, Meliann se entristeceria muito, mas não seria capaz de observar a dor que sua filha sentiria ao perder o homem que ama.
- E como você sabe de tudo isso? – perguntou Elenna enxugando os olhos.
- O rei me explicou parte disso pouco depois da reunião com Coran Bhael – disse Aramil – quando me confiou uma espécie de “testamento”, que deveria ser seguido à risca caso ele perecesse neste combate.
- O que não vai acontecer – respondeu Elenna sorrindo. Como todo elfo de Sindhar, Elenna tinha grande admiração e orgulho de seu rei, mas a história de Aramil fez com que estes sentimentos crescessem ainda mais – pois assim que nosso exército acabar com o exército de porcos de Skarr, voltaremos todos para casa.
- Sim... –disse Aramil com um sorriso – Nós...
- O que foi? – perguntou Elenna ao ver a mudança brusca no semblante de Aramil.
- Cale-se! – gritou o mago voltando imediatamente os olhos para a arena.

- DES...GRAÇADO! - urrou Skarr em seus últimos momentos de vida, enquanto sentia sua carne e órgãos serem rasgados pelos cristais de gelo – VOCÊ... VAI MORRER!
- Só depois de você, verme – respondeu Thingol em um tom solene, que contrastava totalmente com o estado debilitado em que o mago se encontrava.
- AARRRRGH! – Gritou Skarr ainda tentando futilmente se libertar do encanto paralisante de Thingol, que na verdade era a única coisa que ainda mantinha o orc ereto.

Quando estava praticamente morto, Skarr sentiu seu braço direito formigar. Ele já estava cego, pois seus dois olhos haviam sido perfurados várias vezes pelas lâminas de gelo, mas seu olfato aguçado ainda funcionava minimamente bem. Reunindo toda sua fúria e se guiando pelo cheiro do sangue de Thingol, Skarr arremessou seu machado contra o rei dos elfos.

Thingol sabia que aquilo poderia acontecer, mas não tinha mais forças para reagir. Mantendo os olhos bem abertos e com o semblante calmo e digno que sempre mantivera durante sua vida, o altivo e orgulhoso Alto Rei dos elfos encarou o machado de Skarr, e não piscou ou sentiu medo em momento algum.

E com a virtude e dignidade dos Grandes Reis de tempos antigos, Thingol Shaeruil foi partido ao meio pelo impiedoso e certeiro machado de Skarr.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte 10)


Saudações, nobres amigos! Nesta derradeira hora da quarta-feira, venho trazer-vos um emocionante capítulo das Crônicas de Elgalor. O desfecho do combate entre Thingol e Skarr se aproxima... Quem será o vencedor? Logo todos saberão...

Sem mais delongas, boa leitura, nobres aventureiros!

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte 10)

Por ODIN.

Com os olhos vermelhos como sangue e com os músculos do corpo sensivelmente maiores por causa de sua fúria, Skarr rosnou e avançou ferozmente na direção de Thingol. Os dois estavam a cerca de três metros um do outro, e em um piscar de olhos, o gigantesco machado sangrento de Skarr estava a poucos centímetros da garganta de Thingol. Mantendo a calma e a frieza, Thingol fez alguns gestos rápidos e precisos com sua mão esquerda, sussurrando um pequeno encantamento no idioma dos elfos. Em seguida, ele estendeu seu cajado dourado na direção de Skarr.

Todos fora da redoma ficaram estarrecidos quando viram que Skarr simplesmente parou de se mover, como se estivesse congelado no tempo. Os mais atentos e os elfos puderam constatar que não foi apenas Skarr que foi paralisado naquele instante; o próprio tempo dentro da redoma parou, se curvando ao comando do Alto Rei dos elfos. Thingol, que ainda podia se mover livremente, recitou mais dois encantamentos em si mesmo e em seguida conjurou uma redoma de energia em volta de Skarr, que ainda permanecia imóvel. Após isso, o arqui-mago fez surgir dentro da redoma onde seu inimigo estava preso uma espessa nuvem venenosa de cor esverdeada, que rapidamente se espalhou por toda a redoma que envolvia Skarr.

- Como já era de se esperar, uma estratégia impecável – disse Aramil satisfeito, mais para si mesmo do que para a jovem Elenna que estava a seu lado.
- O que esta névoa faz? – perguntou Elenna com um sorriso, imaginando que o combate já estava decidido.
- Corroeria todo o corpo do maldito se Skarr não fosse imune ao ácido – respondeu Aramil.
- Como você sabe se ele é ou não imune? – perguntou Elenna - E se o ácido não pode afetá-lo, por que o rei usou esta magia?
- Sabemos todas as fraquezas e poderes de Skarr graças a magias de observação raras e muito poderosas – continuou Aramil começando a se sentir entediado por ter que explicar tudo aquilo – além do ácido, esta magia diminui muito a capacidade mental de Skarr, e o torna mais lento.
- E ele tem como sair daquela barreira quando o tempo voltar ao normal? – perguntou Elenna ao perceber que Aramil não parecia estar totalmente tranqüilo.
- Nenhum ataque físico no mundo pode romper este encantamento à força – disse o elfo observando a arena – mas descobriremos logo se Skarr pode ou não sair dela.

O tempo voltou ao normal na arena e Skarr se viu envolvido por uma forte névoa que além de travar seus movimentos, deixava seu raciocínio mais lento e confuso. Isso, somado a sua fúria, anulava qualquer chance do bárbaro orc criar uma estratégia para sair da barreira mágica que o prendia.

Porém, para o infortúnio de Thingol, Skarr não necessitava de estratégia alguma.

- Você... se acha... muito... esperto..., não é, desgraçado?! – disse o bárbaro em meio a gritos e rosnados de ódio enquanto cerrava se punho envolto pela manopla de ferro negro.
Thingol arregalou os olhos e em uma pequena fração de segundo lembrou-se que a única coisa que ele não conseguira examinar antes do confronto era a manopla que Skarr usava. Havia uma aura poderosa, quase divina, que protegia aquele item específico de qualquer meio de detecção mágica que o rei élfico poderia usar. Agora, no entanto, era óbvia a finalidade real da manopla negra de Skarr.

Skarr ferozmente socou a barreira mágica de Thingol, e sua manopla brilhou intensamente. A luz vermelha na manopla destruiu completamente a barreira, como um martelo estilhaça um vaso de cristal. Reunindo todas as suas forças, Skarr correu para frente, e antes que Thingol tivesse tempo para reagir, o orc conseguiu desferir um golpe certeiro com seu machado contra o rei dos elfos.

- NAÃÃOO! - gritou Meliann enquanto assistia a lâmina sangrenta do machado de Skarr atingir seu pai. Bheleg a abraçou naquele momento, tentando cobrir os olhos da princesa. Astreya apertou forte a mão de Coran, e Evan e Tallin permaneciam em um tenso silêncio.
No momento em que Thingol foi atingido, uma aura mágica envolveu seu corpo por um instante, e uma pequena explosão de fogo arcano jogou Skarr de volta para dentro da névoa. Apesar da aura mágica de Thingol ter sido forte o bastante para suportar o ataque de Skarr, a força do impacto do golpe arremessou o rei para trás com violência.
- HAHAHAHA! – gargalhou o bárbaro levemente chamuscado saindo da área da névoa – fogo... não vai... me matar... verme....
- Eu precisava apenas de um pouco de espaço, pedaço de lixo – disse Thingol ainda no chão, fazendo um pequeno gesto com a mão esquerda.
Neste instante, Skarr e a névoa mágica começaram a flutuar para cima, e ambos foram violentamente esmagados contra a cúpula da barreira mágica que envolvia a arena, à cerca de 20 metros de altura.
- Onde estão suas gargalhadas agora, porco? – disse Thingol com o mesmo ar frio e arrogante de sempre - acha mesmo que eu não me prepararia para o caso de você destruir minha barreira?
- Então... prepare-se... para ISTO! – gritou Skarr colocando o braço para fora da área da névoa e arremessando seu machado contra Thingol.

Guiado por poderosos encantamentos e pelo arremesso preciso do orc, o machado de Skarr foi girando rapidamente na direção de Thingol. O arqui-mago posicionou seu cajado e novamente ergueu uma barreira mágica. Esta nova barreira, no entanto, foi feita às pressas, e não era tão poderosa quanto a anterior; o machado de Skarr foi capaz de rompê-la parcialmente, partindo ao meio o cajado mágico de Thingol. A barreira mágica foi capaz de conter a maior parte do impacto do golpe, e o cajado desviou um pouco a lâmina do machado, mas ainda assim, Thingol sofreu um corte grave na região próxima a suas costelas. Mesmo preso, Skarr gargalhou ao ver o orgulhoso elfo se contorcendo ao mesmo tempo em que tentava esconder a dor que sentia. Além disso, o machado sangrento de Skarr magicamente voltou às mãos de seu mestre.
- PAPAI!!! - gritou Meliann sentindo suas pernas perdendo a força.
- Bheleg, tire a princesa daqui! – exclamou Tallin irritada com o andamento do confronto – ela não precisa ver nada disso!
- Eu... – disse Meliann se recompondo e enxugando os olhos – não vou a lugar algum. Eu tenho fé em meu pai, e não o desonrarei saindo daqui.
Quando o machado voltou à mão de Skarr, o orc reuniu novamente suas forças para mais um arremesso, enquanto gargalhava compulsivamente. Já sabendo da existência do poderoso veneno que impregnava a lâmina do machado de seu inimigo, Thingol se protegera magicamente contra ele, mas o corte ardia muito, e parecia abrir um pouco a cada segundo que passava. Furioso, Thingol reuniu toda sua concentração e força de vontade e novamente estendeu a mão na direção de Skarr, antes que ele pudesse arremessar o machado novamente.
- Está rindo de que, animal? – disse Thingol olhando ferozmente para Skarr, pouco antes de proferir as palavras mágicas de seu encantamento.

Um segundo antes de Skarr lançar novamente seu machado, ele se sentiu ser puxado violentamente para baixo, com uma força e velocidade incríveis. A névoa permaneceu no topo da barreira que envolvia a arena, mas Thingol usou sua magia para arremessar Skarr de cabeça contra o chão. Quando a cabeça de Skarr colidiu impiedosamente no solo, um buraco foi aberto naquele ponto da arena. Thingol não se dera ao luxo de contar que a força do impacto quebrasse o pescoço do orc, mas sabia que isso seria capaz de feri-lo seriamente e o deixaria desorientado por alguns momentos. Sem perder tempo, Thingol gesticulou mais uma vez, e logo que as costas de Skarr atingiram o chão, o mago usou sua magia para arremessá-lo para trás, aumentando ainda mais a distância entre os dois.

Mesmo durante a queda ou quando foi arremessado por mais um pulso de energia de Thingol, Skarr não soltou seu machado. Levantando com dificuldade, o poderoso orc rugiu e, com o rosto coberto de sangue e com o crânio rachado, gritou:
- Posso continuar com isso o dia inteiro, elfo! E você?

Nisso, Skarr começou a caminhar lentamente na direção de Thingol, que devido à perda de sangue se enfraquecia a cada instante.

- Não – respondeu Thingol de forma orgulhosa enquanto seu inimigo se aproximava – mas posso resistir por mais alguns minutos, o dobro do tempo que preciso para mandar você em pedaços de volta para seu mestre...

sábado, 6 de agosto de 2011

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte 9)


Saudações, nobres viajantes. Venho aqui esta noite para publicar ainda mais um emocionante capítulo das Crônicas de Elgalor. Que os ventos da fortuna vos acompanhem, e boa leitura!

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte 9)

Por ODIN.

Assim que a lâmina do machado de Balderk atingiu o rosto do furioso Skarr e trespassou o crânio do monstruoso orc, houve um momento de silêncio tão intenso no Vale do Escudo Partido que para alguns foi possível ouvir o corpo sem vida de Skarr cair pesadamente no chão. Balderk permaneceu olhando atentamente o corpo de seu inimigo derrotado, e quando seus instintos lhe asseguraram de que aquilo não era nenhum truque ou engodo do orc, o poderoso rei dos anões ignorou a dor intensa de seus ferimentos, ergueu seu machado com orgulho e gritou com toda a força de seus vigorosos pulmões:
- POR DARAKAR!!!

“Por Darakar”, ecoaram as vozes de mais de mil anões por todo o vale em comemoração à vitória de seu Grande Rei. Os elfos também comemoraram, embora de forma mais comedida, pois a vitória de Balderk reforçava ainda mais a fé que possuíam em seu alto Rei e campeão, Thingol Shaeruil, o mais poderoso arqui-mago de toda Elgalor. Em meio às ovações, os orcs permaneceram rosnando e vaiando, praguejando inclusive que havia existido trapaça por parte dos anões no confronto. Neste meio tempo, a redoma que envolvia e protegia a “arena” sumiu, e o corpo de Skarr foi envolvido por um turbilhão de chamas negras e vermelhas.

Balderk deixou a arena e se aproximou de Thingol, que assistia tudo de perto isolado de seu povo.
- Esta barreira possui alguma coisa estranha, como você já deve ter notado – disse Balderk ao rei dos elfos.
- Sim – respondeu Thingol.
- O veneno no machado daquele porco – continuou Balderk fazendo um sinal com a mão para que nenhum de seus soldados se aproximasse – é muito forte. Minha vista está embaçada e mal consigo permanecer de pé.
- O que quer dizer com isso? – perguntou Thingol com os braços cruzados e um forte ar de indiferença – quer que eu peça a meus clérigos para curá-lo?
- O que eu quero, seu arrogante maldito – explodiu Balderk em um acesso de fúria – é que você reconsidere e coloque Coran ou Bheleg no seu lugar. Aquela redoma drena lentamente nossa energia, e acima de tudo, ela foi feita para barrar boa parte dos SEUS encantamentos. Ela foi feita para conter você, maldito, e não a mim!
- Está perdendo seu tempo, rei dos anões – respondeu Thingol sem sequer refletir sobre as palavras de Balderk.
- Se o machado dele teve força para abrir a ombreira de minha armadura – tentou argumentar Balderk – o que acha que vai fazer com seus ossos, elfo?
- Parabéns por sua vitória, Balderk – disse Thingol ao anão enquanto caminhava em direção à arena.
- Espero que você morra, maldito – disse Balderk em tom baixo para que apenas Thingol ouvisse – mas eu não gostaria que fosse aqui ou pelas mãos deste verme. Espero que você tenha algum plano realmente MUITO bom.

Enquanto Balderk caminhava para perto de seu povo, que comemorava vigorosamente, os elfos começaram a ficar mais calados, preocupados com o que aconteceria a seguir.

- Se Balderk I venceu – disse Meliann a Astreya e a Bheleg – Skarr está morto e meu pai não terá que lutar.
Evan e Coran olharam para a bela princesa de Sindhar, e notaram que nem mesmo ela estava acreditando naquelas palavras. As mãos de Meliann tremiam intensamente, por mais que ela tentasse esconder
- Tenha fé – disse Astreya à princesa – Tenha fé.
- Eu deveria estar lá – desabafou Bheleg como se estivesse falando sozinho – representando meu rei e meu povo.
- A decisão foi dele – disse Coran – como Astreya disse, tudo que podemos fazer agora é ter fé.
- Meu pai.... – disse Meliann debruçando suavemente a cabeça no ombro de Bheleg – meu pai vai vencer!
- Este é o espírito – disse Evan com confiança.

No momento em que Balderk voltou ao flanco guardado pelos anões, foi recebido com grande alegria por seus soldados, e os clérigos se apressaram a curar os ferimentos de seu amado rei. Todavia, logo perceberam que seus encantamentos de cura não surtiam efeito.
- Maldição! – praguejou Hargor ao lado de Oyama e Durin, o filho de Balderk, enquanto eles se aproximavam – parece que os ferimentos continuarão abertos até que Skarr seja destruído pela segunda vez, ou até que estes combates terminem.
- O que não fará diferença nenhuma para estes vermes – disse Durin – mesmo neste estado, meu pai ainda pode matar quatro dezenas de orcs.
- Eu não duvido – disse Oyama coçando a barba – mas acho que para estes orcs chegarem perto de Balderk, vão precisar passar por cima de umas duas centenas de guerreiros anões.
- Verdade – respondeu Durin com uma risada.
- Olhem – interrompeu Hargor – Thingol chegou à arena, e a redoma se formou novamente.

Neste momento, todos fizeram silêncio, inclusive os orcs. No momento em que Thingol pisou dentro da área da arena de combate, a redoma de energia novamente se formou, e os símbolos no chão começaram a brilhar. Uma coluna de chamas negras surgiu do chão, e Skarr emergiu das chamas. Ele estava curado dos ferimentos causados por Balderk, mas seu corpo parecia ter recebido centenas de chibatadas, uma provável punição por seu fracasso em matar o rei dos anões.
- Finalmente resolveu aparecer, princesa... – disse Skarr em tom provocativo a Thingol, enquanto se aproximava lentamente do arqui-mago. Skarr ignorava completamente a dor que as chibatadas ainda deviam lhe causar, e em seu rosto exibia um largo e sádico sorriso.
- Para um porco que acabou de ser abatido e depois chicoteado, você está sorrindo demais, não acha? - respondeu Thingol com sua costumeira arrogância e frieza.
- Você não vai estar tão “altivo” depois que eu arrancar sua pele, elfo desgraçado! – rosnou Skarr, visivelmente irritado pelo tom presunçoso de Thingol – Esta barreira bloqueia qualquer tipo de meio mágico de fuga ou entrada de anjos ou o que quer que você queira chamar enquanto eu estiver mastigando seus ossos. Você está morto, e sabe disso.

Meliann não podia ouvir a conversa de seu pai com Skarr, mas ao ver o monstro a cerca de três metros de Thingol, ela começou a tremer e sentir uma terrível vertigem.
- Vou mandar levá-la de volta – disse Bheleg percebendo o estado da princesa.
- Não! – gritou ela se afastando dele por um momento – Não... eu preciso ficar...
Pouco depois Meliann novamente se aproximou dos braços de Bheleg, e ao ver a aflição da princesa, Astreya agradeceu a todos os deuses por Coran não precisar estar dentro daquela redoma.

- Você está MORTO! – gritou Skarr se posicionando a frente de Thingol, erguendo lentamente seu imenso machado que respingava gotas de sangue fétido – Tudo aqui está contra você.

Thingol nada respondeu. Segurando seu cajado, ele apenas olhava para Skarr com o mais absoluto desprezo.
- Você não passa de um pedaço de lixo – respondeu Thingol de forma fria e calma – Poupe-me de suas tentativas esdrúxulas e patéticas para me intimidar e vamos começar logo com isso.
Skarr sentiu todas as gotas de seu sangue explodirem em ódio naquele momento. A arrogância dos elfos sempre o incomodara, mas a postura de Thingol parecia ser mais do que ele poderia suportar. Naquele momento, ele jurou para si mesmo que desmembraria e devoraria de forma lenta e dolorosa o corpo daquele maldito rei, e faria o mesmo com cada elfo que cruzasse seu caminho.
- Depois que matar você – disse Skarr de forma quase bestial, pois estava entrando em seu estado de fúria assassina – até meus deuses sentirão pena de sua filha quando eu e meus cinco mil guerreiros tivermos terminado com ela!
Neste momento, a expressão fria de Thingol se desfez instantaneamente, dando lugar a uma ira que poucos em Elgalor já tiveram o infortúnio de presenciar.
- Não vou apenas destruir você – disse Thingol de forma fria, mas com as palavras carregadas com o mais absoluto ódio – irei rasgar sua alma pútrida em mil pedaços de forma que nem mesmo os deuses poderão juntá-la. Hoje, verme, você vai conhecer o verdadeiro significado da palavra dor.

Skarr rosnou, e dominado por um frenesi de batalha completamente sanguinário, se lançou contra Thingol.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte 8)


Saudações, nobres aventureiros! Prosseguimos com a emocionante continuação da batalha entre Skarr e o rei anão Balderk! Sem mais delongas, boa leitura e que os ventos da fortuna vos acompanhem!

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte 8)

Por ODIN

- ACABA COM ELE! – gritou Oyama com toda a força de seus pulmões.
- Este orc é forte – reconheceu Durin, o filho de Balderk – mas meu pai é o melhor guerreiro entre a raça dos melhores guerreiros de Elgalor. Ele irá vencer.
- Com certeza – disse Hargor com seriedade.
Todos os anões estavam gritando em incentivo a seu amado e bravo rei, e mesmo respeitando a força de Skarr, em nenhum deles havia dúvida de que Balderk terminaria triunfante. Eles sabiam que o golpe com o qual Skarr atingira seu rei seria capaz de derrubar um gigante, e ver Balderk lutando ferozmente como se nada houvesse acontecido apenas aumentou o orgulho daquele povo. Bulma, por outro lado, rosnava e rangia os dentes. Melhor do que qualquer um daqueles guerreiros experientes e altamente disciplinados, ela entendia o poder da fúria de um verdadeiro bárbaro. Ela odiava, mas era obrigada a admitir que Skarr era sem dúvida o maior bárbaro que ela já vira em combate. Mesmo que Balderk arrancasse seus dois braços e suas duas pernas, ele continuaria lutando.

- MORRA! - gritou Skarr de uma maneira completamente bestial e ensandecida enquanto desferia arcos amplos e violentos com seu poderoso machado, que como sangrava continuamente, já deixara diversas poças de sangue no campo de batalha.
- Você primeiro – rosnou Balderk bloqueando um golpe com seu escudo e desferindo um corte profundo na coxa de Skarr com seu machado. Skarr cambaleou, mas se recuperou rapidamente em um salto, girando ferozmente seu machado na altura da cabeça de Balderk. Balderk posicionou seu escudo de acordo, e praguejou em sua língua quando o machado atingiu em cheio seu escudo. Aquele já devia ser o sexto golpe que Balderk aparava daquela maneira, e sabia que dentro de mais quatro ou cinco bloqueios, mesmo o seu braço quebraria com a força dos impactos. Mas não foi isso que preocupou o rei dos anões. O que o enfureceu é que naquele exato instante que o machado de Skarr atingiu seu escudo, ele estava posicionado sobre uma das várias poças de sangue geradas pelo machado de Skarr. Balderk procurou firmar sua base de combate, mas sabia que isso seria praticamente impossível. No instante seguinte, o Grande Rei dos Anões foi arremessado violentamente contra o chão.

Elfos e anões emudeceram naquele momento, enquanto os tambores orcs soavam cada vez mais altos. Como um tigre, Skarr avançou sobre Balderk com um golpe poderosíssimo de seu machado. Balderk rolou para o lado e quando estava para se levantar, sentiu o pé esquerdo de Skarr explodindo contra seu rosto. Elenna inconscientemente gritou naquele momento, pois durante todo o combate estava fazendo comparações sobre o que Coran ou Bheleg fariam se estivessem ali; naquele momento, ela foi obrigada a admitir para si mesma que se seu tio ou o rei de Sírhion fossem pisoteados daquele jeito, seus crânios teriam se partido ao meio.

Balderk sentiu tudo escurecer ao seu redor, mas não perdeu a consciência. Skarr forçou seu pé para esmagar o crânio do anão, enquanto desferia mais um golpe com seu machado bem no peito de Balderk. O anão bloqueou o golpe com o escudo, e desferiu um golpe preciso com seu machado; não no pé de Skarr, mas no ligamento que ficava atrás do joelho esquerdo do orc. Quando o machado de Balderk rasgou a perna de Skarr quase a arrancando, Skarr urrou de dor e instintivamente afrouxou o pé que prendia Balderk. Cego de raiva e dor, ele desferiu mais um golpe contra Balderk. Este golpe novamente foi bloqueado com o escudo de Balderk, mas sua força fora tão grande que o rei anão sentiu seus ossos trincando com o impacto. Mais um golpe e seu braço estaria inutilizado.

Da melhor forma possível, Balderk se levantou, e notou que mesmo sem ter praticamente apoio algum em uma das pernas, Skarr continuava a atacar, e parecia que até mesmo seu machado tinha vida própria. Skarr não possuía mais precisão alguma em seus golpes devido à falta de firmeza em sua base, mas os ferimentos causados pelo anão deixaram o orc ainda mais forte e mais rápido. Skarr era além de tudo, um combatente muito experiente, como Balderk pôde observar; se ele arriscasse encontrar uma brecha na defesa do orc e falhasse, seria instantaneamente decapitado. Restava apenas uma opção.
- Glória ou morte! – gritou o anão arremessando longe seu escudo e segurando seu machado com as duas mãos.
Skarr atacou ferozmente em um arco vertical descendente, e Balderk habilmente virou a lâmina do seu machado de modo que ela aparasse o golpe. As Lâminas do machado de Skarr e do machado de Balderk se chocaram violentamente, causando um pequeno clarão seguido do ruído de um trovão. O braço direito de Balderk pareceu quebrar com o impacto, mas como Skarr não era capaz de sustentar uma base eficiente, seu ataque não pôde ser desferido com toda a força. Balderk firmou suas fortes pernas no chão e rugiu, como se tentasse ganhar ainda mais força para resistir. Skarr pressionava seu machado para baixo com violência, e quando Balderk olhou nos olhos sedentos de sangue do orc sentiu que ele estava instintivamente preparado caso o anão tentasse esquivar e atacar ou usar uma rasteira. Mas este não era o plano de Balderk.
Por mais de dois minutos, os dois guerreiros permaneceram imóveis apenas tentando sustentar suas posições. O primeiro que cedesse ali estaria morto.

- Balderk está contando que seu vigor supere o de Skarr, não é? – disse Astreya a Coran, sentindo seu coração palpitar cada vez mais forte.
- Ele não tem como medir o vigor de Skarr, Astreya – respondeu Evan – ele não apostaria a batalha em uma variável que não conhece.
- Então no que ele está apostando? – perguntou Tallin impaciente.
- Naquilo que conhece – respondeu Bheleg.
- Que é... – perguntou Tallin novamente.

- Aço – disse Durin a Oyama e a Hargor do outro lado do vale – meu pai confia em nosso aço, e a esta altura sabe que ele é superior ao aço usado no machado de Skarr.

No terceiro minuto daquele “teste de resistência” a lâmina do machado de Balderk começou a atravessar lentamente a lâmina do machado de Skarr. Os instintos selvagens do bárbaro orc não possuíam saída para aquilo, e Skarr rosnou e forçou ainda mais sua arma. Aos poucos, o machado de Balderk foi abrindo o grande machado de Skarr ao meio, e quando a lâmina do machado sangrento estava toda destruída, Skarr largou a arma e atingiu um soco certeiro no nariz de Balderk com seu punho revestido por uma pesada luva de ferro negro repleta de espinhos. Balderk sentiu seu nariz se quebrar em mil pedaços e novamente sentiu como se estivesse à beira de perder a consciência.

Mas isso agora não importava, pois no momento que Skarr avançou para atingir o rosto de Balderk com um soco, seu próprio rosto encontrou o fio do machado do rei dos anões, e foi instantaneamente dividido em dois.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte 7)


Saudações, amigos! Esta noite, trago-vos mais uma emocionante parte das Crônicas de Elgalor! Espero que apreciem e boa leitura!

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte 7)

Por ODIN.

O clima era de tensão absoluta no Vale do Escudo Partido; Skarr havia surgido, e trazia consigo milhares de guerreiros orcs, que ocupavam todo o flanco norte do local. Os Guerreiros Dourados de Sindhar, os Cavaleiros da Lua de Sírhion e a Guarda do Trovão de Darakar ocupavam todos os outros flancos do vale, mas ainda eram inferiores em número aos guerreiros de Skarr.

- Para o seu próprio bem, cão – disse Balderk encarando Skarr nos olhos – é bom que seu machado seja mais preciso do que seu cuspe.
- Fale bravamente enquanto pode, nanico! – rosnou Skarr se aproximando lentamente – quando eu acabar com você, não vai sobrar sequer ossos para os ratos roerem, e eu mesmo vou devorar sua carne e beber de seu sangue!
Os orcs vibraram com as palavras de Skarr, e começaram a rir, gritar e tocar tambores de guerra em uma melodia perturbadora e macabra. Skarr continuou se aproximando lentamente de Balderk, até que ambos ficassem a menos de três metros um do outro. O rei dos anões era robusto e vigoroso, mas Skarr tinha uma constituição física quase tão densa quanto a do rei dos anões. Além disso, com seus dois metros e meio, tinha cerca de um metro de altura a mais do que Balderk.
- Tão pequeno... – provocou Skarr com um sorriso macabro no rosto repleto de cicatrizes – quase dá pena... QUASE.
- Não se preocupe com a diferença de altura – respondeu Balderk de maneira calma e fria, fitando desafiadoramente os olhos de Skarr – dentro de alguns instantes, deceparei suas duas pernas, e teremos o mesmo tamanho.
- Falar é fácil, anão tolo – rosnou Skarr girando seu enorme machado de lâmina sangrenta no ar.
- Então cale essa boca imunda e vamos logo ao que interessa! – rosnou Balderk erguendo seu machado e preparando seu escudo.

Neste momento, um círculo vermelho se formou ao redor dos dois, formando uma área de 10 metros de raio. Em seguida, uma redoma transparente começou a se formar, e quando ela se completou, adquiriu uma coloração prateada. Thingol, que estava fora da barreira deu um passo para trás, em silêncio absoluto.
- Espere um pouco, rainha élfica – gargalhou Skarr – assim que eu devorar este porco que pensa ser um javali, arrancarei suas vísceras delicadas e as darei a meus lobos!
Thingol simplesmente ignorou Skarr com um desprezo e indiferença tão grande que o orc ficou extremamente irritado. A arrogância dos elfos sempre o enfureceu, e aquele lhe parecia, sem sombra de dúvida, o elfo mais arrogante daquele mundo.

- Esta barreira prateada... – disse Astreya a seus amigos e a Coran – indica que nossos deuses também estão aqui, não é?
- Sim – respondeu uma voz suave e delicada vinda de trás.
- Meliann? – disse Coran surpreso ao ver a princesa de Sindhar junto do capitão Bheleg naquele local – vossa alteza não deveria estar aqui.
- Eu não podia deixar de vir, rei Coran – respondeu ela fazendo uma mesura – não quando meu pai está correndo um risco tão grande.
- Por opção dele – atreveu-se Tallin.
- De qualquer modo – começou Bheleg fulminando Tallin com um olhar – a princesa Meliann realmente não deveria estar aqui, mas...
- Se porventura meu pai for derrotado – disse ela quase desmaiando ao considerar a possibilidade da morte do querido pai – eu terei o dever de guiar nosso povo, e não teria coragem de encará-los se não fosse mulher o bastante para vir até aqui.
- Eu entendo – disse Astreya – faria o mesmo no seu lugar.
- Mas por que vocês estão aqui, e não com as forças de Sindhar? – perguntou Evan.
- Eu tenho que discutir algumas coisas com o rei Coran, e Meliann insistiu para vir junto – respondeu Bheleg quando um trovão rasgou o céu.
Como que fascinados por magia, todos os presentes no Vale do Escudo Partido olharam para a redoma no mesmo instante, e viram que o combate havia começado.

Skarr gritou ferozmente, e seus músculos cresceram de forma assustadora. Seu rosto quase se desfigurou tamanha a fúria e ódio que agora o dominavam, e ele saltou sobre Balderk brandindo seu machado profano com uma força que seria capaz de partir rochas assim como uma faca corta manteiga quente. Balderk habilmente se esquivou da primeira machadada, e bloqueou a segunda com seu pesado escudo. Quando o machado de Skarr atingiu o escudo de Balderk, um estrondo assustador pôde ser ouvido em todo o vale. A força do golpe, apesar de terrível, não foi capaz de desequilibrar a base de Balderk, que contra-atacou ferozmente fazendo um arco horizontal com seu machado no pescoço de Skarr. Movido por um instinto bestial forjado em centenas de batalhas, Skarr se esquivou por menos de um centímetro da lâmina de Balderk. O rei dos anões estava com o escudo pronto para atingir em cheio o rosto de Skarr, mas no último momento decidiu que aquele movimento deixaria uma brecha perigosa demais em seu flanco esquerdo, e que provavelmente não atordoaria aquele orc. Balderk se virou, posicionando-se no flanco direito de Skarr, que estava completamente aberto. Quando o anão desferiu seu golpe, viu o machado de Skarr girando novamente em sua direção, formando um arco vertical descendente, que tinha pouca precisão, mas possuía uma força avassaladora. Se ele bloqueasse com o escudo, não seria capaz de atacar. Confiando em sua armadura e na sua vasta experiência, Balderk deslizou um pouco para o lado esquerdo e golpeou as costelas de Skarr com toda sua força. O machado de Skarr desceu impiedosamente sobre o ombro de Balderk, criando uma rachadura na armadura e um corte profundo no ombro do rei. Imediatamente, Balderk percebeu que o machado de Skarr carregava algum tipo de veneno, pois sentiu a ferida queimar como se estivesse devorando sua carne. Balderk rangeu os dentes com força e sabia que aquele veneno seria capaz de derrubar um ogro, mas não o Grande Rei de Darakar. O machado de Balderk atravessou as costelas de Skarr com precisão cirúrgica, rasgando um dos pulmões do grande orc. Skarr urrou de dor, mas não parou seu assalto, e desferiu mais duas machadadas contra Balderk.

- Por... por Corellon... – disse Meliann tremendo compulsivamente – eu nunca pensei que...
- Calma – disse Bheleg segurando-a nos braços e virando o rosto da jovem – ele não chegará tão perto de seu pai.
Coran e Evan se entreolharam preocupados. Apesar de Balderk ser o guerreiro mais poderoso de Elgalor, Skarr definitivamente não era um orc qualquer.
- 50 peças no anão – Tallin falou subitamente – alguém cobre?
- Não é hora para isso! – explodiu Astreya se arrependendo logo depois, pois sabia que Tallin estava apenas tentando ajudar.

Sem perceber, Astreya segurou forte a mão de Coran naquele momento, enquanto olhava para Meliann. Ela tinha diversas razões em sua mente para sentir um certo ciúme da bela princesa, mas quando a viu com os olhos cheios de lágrimas e a maneira como ela havia se aconchegado nos braços de Bheleg, percebeu que não havia razão para tais sentimentos. E antes que percebesse, os braços de Coran já haviam suavemente envolvido seu corpo. Tallin olhou para os lados e notou que os elfos de Sírhion e de Sindhar estavam praticamente mudos, assim como Thingol Shaeruil, que parecia estudar cada movimento que Skarr fazia.

- Humph! – resmungou Elenna Aldalen para Aramil enquanto se esforçava para esconder o fato de suas pernas estarem tremendo – Rei Coran ou meu tio seriam capazes de derrotar facilmente esta besta, não acha, lorde Aramil?
- Não há porque pensar nisso, uma vez que nenhum deles cruzará espadas contra Skarr, Elenna – respondeu Aramil com indiferença.
- Mas ao contrário do que os humanos e anões tolos dizem, Balderk não é melhor do que os melhores guerreiros de nossa raça – respondeu Elenna com orgulho e uma certa dose de insegurança - Eles são muito mais ágeis, velozes e...
- Cale-se, criança – disse Aramil aborrecido – nosso representante é Thingol Shaeruil, o maior arquimago de toda Elgalor. E ele, ao contrário de você, está focado naquilo que realmente importa. Se encontrar seu tio, verá que ele também está quieto e prestando atenção a cada movimento que é feito na luta.
Elenna virou o rosto contrariada, pois esperava que Aramil, um dos mais xenófobos elfos de toda Sindhar, fosse apoiar sua causa. Quando conseguiu encontrar seu tio com o olhar, percebeu que ele abraçava Meliann, mas realmente observava cada movimento feito como se estivesse gravando-os. O rei Coran e até mesmo o meio elfo Evan também faziam o mesmo. Sem outra alternativa, ela cruzou os braços e, como os outros guerreiros de seu povo, também observou a luta em silêncio. Mas suas pernas ainda tremiam...

sábado, 9 de julho de 2011

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte 6)


Saudações, nobres companheiros! Odin voltou a seus salões já nos presenteando com um novo capítulo das Crônicas de Elgalor. Sem mais delongas, vamos ao que interessa!

As Crônicas de Elgalor Capítulo VIII: A Guerra dos Reis (Parte 6)

Por ODIN.

Os dias restantes para o duelo contra Skarr passaram rapidamente, tanto para elfos quanto para anões. Por opção do Alto Rei Élfico Thingol Shaeruil, o rei de Eredhon, Thérion I não foi informado sobre o confronto, pois Thingol não desejava a interferência dos humanos, devido a uma experiência terrível que teve com eles séculos atrás. Em Sírhion, Coran e Astreya se falaram muito pouco, pois o rei esteve ocupado o tempo todo organizando seus Cavaleiros da Lua para um combate em larga escala que provavelmente ocorreria após os duelos, independente do resultado.

Logo pela manhã do dia do confronto dos reis contra Skarr, Astreya acordou cedo, e ainda em seus aposentos, fez uma longa oração a seus deuses, pedindo que tudo corresse bem e para que seu amado Coran não fosse ferido. Mesmo sabendo que Coran não lutaria, uma forte dor tomava conta do coração da barda, que por bem mais de uma vez tivera que conter suas lágrimas nos salões de Sírhion cada vez que via Coran ou quando ouvia sua voz.

- Há quanto tempo, lady Astreya - soou uma voz suave, porém firme pouco depois que Astreya terminara sua oração – Espero não estar interrompendo.

Astreya virou-se rapidamente, instintivamente levando a mão onde estaria o punho de sua espada. Ela quase gritou, quando viu a figura de um homem velho e imponente, trajado em um manto dourado e um turbante cor de areia.

- Senhor dos Ventos! – exclamou Astreya.

- Sim, Astreya, sou eu – respondeu o velho fazendo uma mesura – mil perdões por adentrar seus aposentos dessa maneira, mas preciso muito falar com você a sós.

- É claro, mas.... – hesitou Astreya por um instante – onde o senhor esteve todo esse tempo? Passamos por imensas dificuldades, e nosso amigo Erol...

- Está morto... – completou o Senhor dos Ventos com pesar em sua voz – Eu lamento muito por isso, mas como sabe, meu tempo entre vocês é extremamente limitado.

O Senhor dos ventos colocou a mão esquerda dentro de seu manto e tirou de lá uma pequena jóia branca como a neve.

- Vim lhe trazer isto – disse ele estendendo sua mão para que Astreya pegasse a jóia.

- O que é? – perguntou Astreya sentindo um grande poder mágico contido naquela pequena jóia.

- Aquilo que você precisar – respondeu o Senhor dos Ventos de forma séria e enigmática – Aquilo que você precisar, no momento em que você precisar.

- Se isto é tão poderoso – disse Astreya pegando a jóia enquanto tentava se manter calma – por que não nos deu isto antes?

- Porque se eu tivesse lhe dado a jóia quando vocês enfrentaram Thurxanthraxinzethos você a teria usado para salvar seu amigo, não é? – perguntou o Senhor dos Ventos com gentileza.

- Sim – respondeu Astreya com sinceridade.

- E neste caso – disse o Senhor dos Ventos baixando sua cabeça – estaríamos condenados ao final deste dia.

- Como assim?! – explodiu Astreya enquanto sentia um terrível calafrio percorrendo sua espinha – Vai acontecer algo terrível, não é? Skarr vai matar Thingol e Balderk?

- Talvez – respondeu o Senhor dos Ventos – mas isso não é o pior.

Astreya sentiu que suas pernas começaram a tremer, mas forçou-se a permanecer firme.

- É muita responsabilidade – disse ela olhando para a jóia – entregue-a a Aramil ou a Hargor...

- Apesar de Aramil e Hargor serem mais experientes e mais velhos do que você – disse o Senhor dos Ventos gentilmente colocando a mão no ombro de Astreya – apenas você possui a energia certa e na intensidade capaz de ativar o poder da jóia.

- Que energia é esta? – perguntou Astreya.

- Amor – respondeu o Senhor dos Ventos.

- Mas devo avisá-la... – continuou o senhor dos Ventos – que você não deve usar a jóia de forma egoísta.

- Eu jamais usaria ela para proteger apenas minha própria vida – retrucou a barda com convicção, mas internamente temendo muito o sentido oculto nas palavras do senhor dos Ventos.

- Há outros tipos de egoísmo, criança – respondeu ele – e creio que sabe disso.

Após proferir estas palavras, o Senhor dos Ventos desapareceu do quarto de Astreya. A barda ficou alguns momentos olhando inerte para a pequena jóia, até que ouviu alguém bater à sua porta.

- Quem é? – perguntou a barda educadamente enquanto guardava a jóia.

- Coran – respondeu a voz do outro lado.

Astreya correu e abriu a porta, fazendo uma mesura delicada.

- Em que posso ajudá-lo, Coran? – perguntou a barda.

- Logo partirmos, Astreya – respondeu o rei, que já estava trajando sua bela armadura de combate azul e prateada – você parece preocupada. Mais do que eu esperaria.

Astreya baixou a cabeça e seus olhos começaram a verter pequenas lágrimas enquanto a barda tentava decidir se contava algo a Coran.

- Tudo ficará bem – disse ele gentilmente limpando as lágrimas da barda com seu dedo enluvado e beijando suavemente seus lábios - Tudo ficará bem.

Astreya o abraçou com toda a força de seus braços e ambos permaneceram daquela forma por alguns instantes, até que Coran beijou sua testa e deixou-a sozinha no quarto para que ela vestisse sua armadura, e foi exatamente isso que Astreya fez; vestiu sua armadura, pegou seus itens e armas e repetiu dúzias de vezes as palavras de Coran: “Tudo ficará bem”.

As horas passaram rapidamente. Em pouco tempo, Astreya, Evan e Coran estavam no Vale do Escudo Partido, um vale gigantesco cercado por dezenas de montanhas. Aquele local já fora palco de uma batalha que envolveu mais de dois mil elfos e anões lutando contra cerca de seis mil orcs e seu último rei demônio, derrotado por Balderk I em combate singular. A batalha de hoje teria uma escala infinitamente menor, mas seria de igual importância para o destino dos povos livres de Elgalor. No flanco leste da região, estavam alojadas as tropas de Sírhion, local onde Coran, Evan e Astreya estavam. Ao lado deste flanco, mais ao norte, estavam as forças de Sindhar, lideradas por Bheleg Aldalen. Astreya notou com preocupação e surpresa que a princesa Meliann também estava lá, ao lado de Aramil, Tallin e de sua melhor amiga, a sobrinha de Bheleg, Elenna Aldalen. Ao sul das forças de Sírhion, estava a guarda de elite de Darakar, a temida Guarda do Trovão. Com eles estavam Hargor, Oyama, Bulma e Dúrin, o filho mais velho de Balderk, também conhecido como o Leão de Darakar. Conforme combinado, a maior parte das forças de Darakar e todos os elementais que serviriam Thingol estavam completamente ocultos. As forças dos três exércitos somados formavam um contingente de cerca de mil e quinhentos homens, mas não ocupavam nem um terço da planície.

No centro do vale estavam apenas Balderk I e Thingol Shaeruil, cada um com uma das cornetas negras dadas por Skarr aos heróis de Elgalor. Balderk trajava sua bela e poderosa armadura completa de batalha, um escudo grande habilmente ornado com o símbolo de um martelo e um trovão e seu machado, o Arauto das Tempestades. Thingol vestia um belo manto élfico verde claro com diversas runas douradas que lhe conferiam enorme proteção mágica. Em sua mão direita, o Alto Rei dos elfos carregava o Cajado do Sol e das Estrelas, o mais poderoso artefato de Sindhar, criado por ele próprio.

Apesar do enorme contingente de guerreiros ali presente, era possível ouvir o som do vento frio que soprava naquela região. O silêncio era quase absoluto. Balderk olhou para Thingol, deu um passo à frente e disse:

- Vamos acabar logo com isto! – Nisso, o Grande Rei dos anões soprou a corneta negra com toda a força de seus poderosos pulmões.

Neste momento, parecia que até o vento havia parado de soprar, mas nada aconteceu. De repente, rápido como um piscar de olhos, um gigantesco portal cor de sangue e fogo se abriu no chão na porção norte do vale, e dele surgiram milhares de guerreiros orcs, todos fortes, usando elmos fechados e armaduras negras, carregando enormes machados de lâmina dupla e lanças serrilhadas. Eles berravam e rosnavam, e alguns inclusive tocavam tambores de guerra. Aramil teve a impressão de contar cerca de quatro mil orcs, que preencheram completamente o flanco norte do vale.

A frente deles, surgiu um orc gigantesco e extremamente forte, de pele cinzenta coberta por dezenas, talvez centenas de cicatrizes. Seus olhos eram vermelhos como sangue fresco, e suas presas, afiadas como as de um lobo. Ele carregava consigo um enorme machado de lâmina negra que continuamente respingava um sangue fétido e viscoso, e trajava um grande cinturão e uma manopla repleta de espinhos, ambos feitos de uma espécie de ferro negro como a noite. Ele avançou até chegar a cerca de dez metros de Balderk. E com uma gargalhada sádica, cuspiu na direção do rei anão.