Bem-vindos!

Bons amigos, valorosos guerreiros da espada e da magia, nobres bardos e todos aqueles com quem tiver o prazer de cruzar meu caminho nesta valorosa, emocionante e por vezes trágica jornada em que me encontro! É com grande alegria e prazer que lhes dou as boas-vindas, e os convido a lerem e compartilharem comigo as crônicas e canções que tenho registradas em meu cancioneiro e em meu diário...Aqui, contarei histórias sobre valorosos heróis, batalhas épicas e grandes feitos. Este é o espaço para que tais fatos sejam louvados e lembrados como merecem, sendo passados a todas as gerações de homens e mulheres de coração bravo. Juntos cantemos, levando as vozes daqueles que mudaram os seus destinos e trouxeram luz a seus mundos a todos os que quiserem ouvi-las!Eu vos saúdo, nobres aventureiros e irmãos! Que teus nomes sejam lembrados...
(Arte da imagem inicial por André Vazzios)

Astreya Anathar Bhael

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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A música do personagem

Posso dizer que até hoje, lembro-me da primeira vez que criei uma personagem para uma partida de RPG. Esse é um de meus momentos preferidos no início de uma nova campanha, mas pode ser também o mais complicado (dizem meus amigos que a pior coisa de todas é escolher um nome, hehehe). Seja qual for o sistema que se joga, muitas vezes o problema não reside em criar um personagem no que diz respeito a uma raça, classe, clã, tribo, ou seja lá o que há de opções para se escolher, e sim no que tange a criação de uma história e uma personalidade.

Não há dúvida de que existem muitos elementos que podem ajudar nesse processo: personagens de livros e filmes e suas personalidades, desenhos, pessoas que conhecemos, personalidades da vida real que admiramos, enfim, a gama pode ser vasta e mesmo assim por vezes nos falta inspiração para criarmos e conduzirmos o personagem da forma como gostaríamos.

Sendo uma pessoa que muito aprecia a música, posso dizer que ela sempre está presente, de uma forma ou outra, no desenvolvimento da história de minhas personagens. Tanto que, depois que crio uma base para desenvolvê-las, geralmente lembro-me de alguma canção ou escuto algo que me faz pensar: tal música combina com minha personagem, sua história, etc. Por vezes, o processo pode ser inverso: não posso negar que as canções de Loreena Mckennitt, ótima barda que já apresentei neste Cancioneiro, ajudaram meu alter-ego humano a criar-me.

Portanto, deixo este humilde pergaminho como uma sugestão, para que, no processo de criação de seus personagens, possam defini-lo ainda mais com a escolha de uma canção que combine com ele ou com sua história, e deixo-lhes o exemplo abaixo como ilustração:


Somewhere - Within Temptation

Para facilitar, vamos direto à tradução:

Perdido na escuridão
Esperando por um sinal
Ao invés disso só há silêncio
Você não pode ouvir meus gritos?
Nunca deixo de ter esperanças
Preciso saber onde você está
Mas uma coisa é certa
Você está sempre no meu coração

Eu te encontrarei em algum lugar
Eu continuarei tentando
Até o dia da minha morte
Eu só preciso saber
O que aconteceu
A verdade libertará minha alma

Perdido na escuridão
Tente encontrar seu caminho de casa
Eu quero te abraçar
E nunca deixar você ir
Quase espero que você esteja no paraíso
Para que ninguém possa ferir sua alma
Vivendo em agonia
Porque eu não sei
Onde você está

Eu te encontrarei em algum lugar
Eu continuarei tentando
Até o dia da minha morte
Eu só preciso saber
O que aconteceu
A verdade libertará minha alma

Onde quer que você esteja, não vou parar de procurar
Seja o que for necessário, eu preciso saber.

Eu te encontrarei em algum lugar
Eu continuarei tentando
Até o dia da minha morte
Eu só preciso saber
O que aconteceu
A verdade libertará minha alma

Em uma das campanhas de D&D que joguei, criei uma personagem cujo marido havia desaparecido sem deixar quaisquer rastros - o objetivo principal de Lenora, minha saudosa clériga de Corellon, era encontrar seu amado, Aodhan, e esta canção serviu como tônica para o desenvolvimento da personagem e para que eu definisse sua personalidade - alguém perseverante em sua busca e que nunca deixava de ter esperanças de encontrar seu marido, embora temesse encontrá-lo morto, ou mesmo vivo e marcado pelo sofrimento de maneira muito profunda. Como muitas canções contam histórias, acredito que elas possam ser uma ótima fonte de inspiração para a criação de personagens ou para seu desenvolvimento.

Que os ventos da boa música soprem sempre em vossos ouvidos, bravos aventureiros!

PS: Se alguém tiver algum exemplo parecido com o acima ou já pensou em alguma música para seus personagens ou mesmo para suas histórias, por favor, conte-nos!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sob a lua (Antes da tempestade)

Caros amigos e visitantes, trago-vos este relato ainda em homenagem ao mês daqueles que se amam, juntamente com uma bela canção que costumava tocar em Sírhion... tal relato realmente aconteceu e está gravado em minha memória e coração...

Que a bem-aventurança dos sentimentos nobres e sublimes sempre estejam contigo, nobres amigos...


Sob a lua (Antes da Tempestade)

Fui até a sacada do palácio de Sírhion respirando fundo. A noite cobria cada canto como um manto de ônix, e a pálida luz de uma lua minguante não valia de muita coisa. Sentei-me em um banco; a sacada é grande, uma bela estrutura de madeira, com plantas e flores se entrelaçando em suas colunas. Tudo o que os elfos fazem, afinal, está em harmonia com a natureza. Parecia que, com meu nervosismo, eu era a única coisa que não estava combinando com aquele cenário, com a paz escura daquela noite. Se bem que, mesmo ali, as noites pareciam maiores, mais escuras e mais sombrias.
Ouvi passos vagarosos de alguém adentrando o meu refúgio noturno, minutos depois. Meus ouvidos, acostumados a reconhecer qualquer tipo de som, sabiam a quem eles pertenciam; eu conhecia o jeito de andar do rei de Sírhion. Olhei para a porta de entrada e o vi; quando ele me percebeu, havia surpresa em seu rosto. Embora estivesse escuro, meus olhos já haviam se acostumado, naquela altura, à iluminação quase inexistente. Preocupado, ele andou até a minha direção. Eu baixei o olhar. Não queria ver seu rosto. Não queria me lembrar daquilo que havia sonhado, há cerca de meia hora atrás.


(...) Estava frio. Eu estava na câmara mortuária do palácio de Sírhion. Vários túmulos de mármore esculpidos guardavam corpos de reis, príncipes, rainhas, guerreiros, clérigas, generais, enfim, de pessoas caras e importantes ao reino. No entanto, um deles não estava desocupado e reluzente como os outros; havia um corpo sobre ele, ainda conservado, sendo velado ali por algum motivo que me escapava. O rosto sem vida, pálido como a cera de uma vela, as mãos entrelaçadas ao cabo de uma espada ornamentada que repousava sobre seu peito, e uma bela túnica azul e prateada. Eu me aproximei, sentindo o quente das lágrimas escorrendo, beijei a testa, as mãos e os lábios de Coran morto, numa intimidade que nunca havíamos tido, mas, que todos os deuses sabiam, eu – e tinha praticamente certeza, nós - desejávamos. E fui embora vestida para uma batalha (...).

- Lady Astreya, está se sentindo bem? – ele perguntou, tirando-me de meus devaneios.
- Sim – eu respondi prontamente, com a voz falhando um pouco, agradecendo por estar escuro e ele não poder ver meu suor e as lágrimas que se formavam em meus olhos – perdi o sono, apenas isso. Perdoe-me majestade, se eu o incomodei.
- Não – ele sorriu um pouco desconfortável; não gostava que eu o chamasse de majestade o tempo todo, mas eu devia a ele respeito – você não me incomodou. Eu não durmo após a madrugada. A maioria de nós não dorme, na verdade, mas fica em seus aposentos esperando a noite passar. Mas você costuma dormir. Eu sei o que acontece com você para acordar no meio da noite. Teve alguma visão?
Eu me virei, incapaz de responder, descontrolando-me muito alem do que gostaria. Apertei o roupão que usava para cobrir minha camisola ainda mais; um vento frio soprava agora, forte o bastante para afastar meus cabelos do rosto.
- Não foi nada demais, apenas pesadelos envolvendo eventos passados, quando fiquei presa no calabouço do Cavaleiro Negro – foi a melhor desculpa que pude arranjar, agora que ele havia percebido meu nervosismo, se isso já não havia acontecido antes.
Ele tocou meu ombro levemente.
- Também não gosto de me lembrar disso – sua voz era grave.
- Vocês foram para lá rápido – eu atalhei – evitaram que o pior acontecesse. Não gosto de me lembrar de como me senti lá dentro, pois achei que todos vocês tivessem morrido...
Quando falei essa palavra, o nó que havia se feito em minha garganta pareceu se desfazer para o pior. Era o pranto que estava guardando o tempo todo vindo a tona. Na masmorra do Cavaleiro Negro, eu não chorei. Estava tão chocada e revoltada, que não chorei. Quando acordei do pesadelo, não chorei. Agora, as duas coisas se misturavam e o medo do que poderia vir se apoderava de mim. O que havia sido aquele sonho, aquela visão?
Ele me virou delicadamente e me abraçou. Depois, me afastou levemente e levou a mão até o meu rosto, secando minhas lágrimas.
- Eu não sei o que mais você viu que não está querendo me contar – ele disse, com a expressão tranqüila – mas você está com medo. Todos estamos. A noite está mais escura, o ar está pesado. São tempos difíceis. Sei que suas visões são acuradas, mas não se impressione tanto. Você mesma me disse uma vez que todo destino pode ser mudado. Você já previu a queda de seu grupo. E estão todos vocês, a exceção de Evan, vivos. Até mesmo por causa de suas visões, vocês mudaram seus cursos de ação e puderam moldar seus destinos de maneira melhor.
Eu fiz um sim com a cabeça.
- Você tem razão – eu respondi – eu apenas não quero que nada aconteça aqui... e com você.
- Nada vai acontecer – ele disse, sorrindo ao me ouvir dirigindo-se a ele com um pronome de tratamento mais adequado a um amigo de longa data – e eu não tenho medo, Astreya. Não por mim. Mas eu sei que dizer isso não vai deixá-la mais tranqüila, assim como não me deixaria mais tranqüilo ouvir o mesmo de você.

A situação já estava bem clara aos olhos de nós dois. Mas algo que ia além do desejo de sermos discretos e respeitosos um com o outro nos impedia de levar qualquer intenção de deixar tudo ainda mais claro adiante, uma certa apreensão que preenchia nossos corações. Era um medo, afinal, do que poderia acontecer. Ele pareceu se adiantar, no entanto. Me apertou forte em seus braços, e eu, cedendo aos meus sentimentos, coloquei minha cabeça em seu peito. Alguns criados e pessoas da corte já começavam a aparecer nos corredores. A manhã já ia romper, afinal. Levantei a cabeça um pouco apreensiva, no que ele beijou minha testa. Surpresa, toquei seu rosto e fechei meus olhos aproveitando aquele momento.

- Pela tarde – ele disse, soltando-me mas sorrindo – eu quero falar com você, Lady Astreya, minha barda real.

Eu sorri.

- É claro – fiz uma pequena mesura.

- Vossa Majestade – a voz de um criado ressoou atrás de nós – Perdoe-me. Tens uma visita, e ele diz que é urgente.

Nos viramos, um pouco embaraçados - no entanto, tal sentimento foi rapidamente encoberto por outro, o de surpresa e, logo depois, de apreensão. Pois atrás do criado, havia ninguém menos que o Senhor dos Ventos.




sexta-feira, 30 de abril de 2010

A história de uma barda


"Ele está vivo?” – perguntou o mercador ao jovem guerreiro que o acompanhava.

“Sim” – o jovem respondeu – “Mas por muito pouco”.

“Vamos levá-lo” – o mercador respondeu – “Se for a vontade de Pelor, ou do deus deles, ele viverá... se já viveu até aqui...”

Eu costumo pensar que aqui se iniciou minha história.

Bons visitantes e companheiros de jornada, nada mais justo que eu lhes revele e conte um pouco de minha história. Há 35 anos, ao sul do continente de Lantos, no inóspito deserto de Kamaro, eu nascia e me tornava mais uma das filhas da tribo de Myrra, a primeira meio-elfa entre seus habitantes. Antes disso, no entanto, muito havia acontecido. Um dragão azul assolava a região havia algum tempo, e boatos de que ele continha em seu tesouro um importante artefato mágico élfico atraiam os mais diversos aventureiros em seu encalço. Em um desses grupos de aventureiros estava meu pai, Anastrel.
Quando um mercador de Myrra o encontrou, ele já estava praticamente morto. Seu grupo abatera o dragão mas a busca mostrara-se trágica: todos haviam sido mortos pela criatura, exceto por meu pai. Ferido e já sem meios para curar-se, ele saiu do covil da criatura e andou por alguns quilômetros antes de cair inconsciente. Foi um milagre (ou como minha mãe diz, foi o destino) que fez com que o mercador o encontrasse pouco tempo depois.

Trazido para nossa tribo, ele foi tratado por Leora, uma das mais estimadas bardas de nossa comunidade. Todas as mulheres de Myrra são treinadas para cuidar de doentes e feridos, auxiliando os poucos clérigos com que contamos. Leora, que contava e conta com o dom da visão, havia sonhado no dia anterior que encontraria no deserto uma pessoa que mudaria o seu destino e o destino da tribo de Myrra... quando acordou e viu que um mercador trazia de sua viagem um elfo semi-morto, sua surpresa foi grande...

Não fica difícil prever o que se sucedeu para que meu nascimento se desse, um ano depois desse acontecimento. Meu pai, antes disso, havia retornado ao covil do dragão e não encontrara o artefato que procurava. Pior do que isso, o tesouro havia sido avariado, sendo óbvio que alguém mais havia passado por ali. Tudo o que restara eram gemas e uma grande quantidade de moedas de ouro, mas no deserto o ouro não possui tanta importância...

O autor deste “saque” revelou-se após o meu nascimento. Um clã de meio-dragões que venerava o dragão azul morto pelo grupo de meu pai recolhera-se após sua derrocada, esperando fortalecer-se para dominar a região. O ataque deles foi súbito, mas não inesperado, graças ao talento de minha mãe. No entanto, o clã havia aliado-se a uma bruxa da noite. Esta desejava o poder de visão de minha mãe, que havia se tornado conhecido para além da tribo de Myrra. Naquele dia, eu e ela quase fomos levadas (pois a bruxa acreditava que eu também possuía tal talento) e nossa tribo sofreu graves perdas. Mas fomos salvas por meu pai. Nas semanas seguintes, ele e minha mãe tiveram um papel central no afastamento e aniquilamento dos meio-dragões. E o artefato que meu pai procurava, um poderoso arco feito por seu avô, foi finalmente recuperado.

Apesar dos eventuais problemas que tínhamos, eu cresci e vivi anos felizes em Myrra, embora a vida no deserto não seja fácil. Fui treinada por minha mãe para ser uma barda como ela. Um dia, porém, quando completava meu vigésimo nono aniversário, minha mãe teve uma visão que a exauriu fisicamente e ela desmaiou. Ao acordar, ela disse que eu deveria partir, e seguir buscando um homem, um paladino chamado Evan. Meu pai e ela discutiram acirradamente, embora ele soubesse que o coração de minha mãe também estava aflito, e ele não quis permitir a minha partida. Mas, havendo herdado o dom de minha mãe, como a bruxa havia previsto, eu acreditava em destino. E, no meu coração, eu também sabia que deveria partir. E eu sabia que deveria ir sozinha.

Eu os deixei, amedrontada, mas sabendo que era o certo a se fazer. E foi assim que tudo começou...