Saudações, bravos companheiros. Chegamos hoje à parte final do tenso capítulo "A Guerra dos Reis". Espero que apreciem e guardem vossas orações aos que tombaram e foram feridos em alma e espírito por esses acontecimentos. Sem mais delongas, vamos ao texto.
Por ODIN.
Meliann estava orgulhosa de si mesma até aquele ponto da história de Astreya; ela não sentira vontade de chorar ou tapar os ouvidos, e apesar de criar imagens mentais de cada acontecimento narrado pela trovadora real de Sírhion, ela manteve seu medo totalmente sob controle. Até o momento em que Astreya disse: “Depois disso, o inferno caiu sobre nós”.
Neste momento Astreya fez uma pequena pausa para sentir como Meliann estava reagindo à história. A princesa de Sindhar começou a enrolar compulsivamente uma mecha de seus belos cabelos dourado-prateados enquanto sentia seu coração começar a parar. Apesar disso, ela se manteve firme e fez um gesto gentil com a mão para que Astreya continuasse. E assim fez a meio elfa:
“ De onde eu estava era difícil ver o que acontecia em todo o campo de batalha, mas as tropas de Thurxanthraxinzethos e de seu mestre avançaram impiedosamente sobre os exércitos de Darakar, que também não mostraram piedade contra seus recém chegados inimigos. Agora, os exércitos dos elfos faziam o possível para atravessar o turbilhão de orcs que formava o gigantesco exército de Skarr. Evan avançou com as tropas de Sírhion de maneira implacável, e seu lobo celestial decapitou pelo menos quarenta orcs pelas contas de Tallin. Bheleg conduziu pessoalmente as forças de Sindhar em uma formação de ponta de lança, tentando rasgar as linhas de defesas dos orcs de forma que não fossem cercados e massacrados pelos flancos. Ele e Evan trabalharam bem juntos, e conseguiram impedir que nossos exércitos fossem completamente “destroçados”, como diria Oyama. Aramil, para minha surpresa, ficou no combate até o final, protegendo nossas tropas contra os sopros dos dragões ao lado dos magos reais de Sindhar e de um contingente de clérigos anões. A situação não era tão desesperadora quanto poderia ser, mas houve momentos em que mesmo Tallin e eu, que estávamos mais na retaguarda, estávamos banhadas em sangue e tropeçando em membros decepados. Por duas vezes, eu quase vomitei. Mas no fundo sabia que cada orc que eu conseguisse derrubar com minha espada ou com meus encantamentos (não foram muitos) era um orc a menos que flanquearia meus amigos no instante seguinte.
Vi pouco da batalha de Balderk contra o Rei Dragão. Pelo que Hargor me descreveu mais tarde, os dois se mantiveram em uma disputa equilibrada por poucos minutos, pois o Rei Dragão era mesmo poderoso como um semi-deus. Após diversos bloqueios e troca de golpes de ambos os lados, A lança do Rei Dragão emitiu um forte brilho vermelho, e foi capaz de atravessar o escudo e a armadura de Balderk e perfurar impiedosamente o coração do nobre rei. Antes de tombar, Balderk rasgou o lado direito do rosto do Rei Dragão arrancando-lhe o olho e um dos chifres. Mas, para o nosso horror, a lança do Rei Dragão brilhou mais uma vez, e a alma de Balderk foi sugada, presa em uma das jóias incrustadas na lâmina da arma. Após matar Balderk, o Rei Dragão simplesmente desapareceu do campo de batalha, ao som de gargalhadas de deboche.
Naquele momento, os anões pareceram explodir em um turbilhão de ódio e vingança, e uma matança ainda maior ocorreu naquele local. Oyama, Bulma e Hargor lutavam com todas as forças para deter o avanço do exército de meio dragões de Thurxanthraxinzethos. Segundo Hargor, Oyama matou mais de dez meio dragões mesmo depois que teve seu braço esquerdo quebrado, e Bulma estava em um estado de fúria tão medonho que após ser engolida por um dos dragões no meio do combate, ela de alguma forma rasgou o ventre da criatura de dentro para fora com seu machado, e mesmo estando com ossos quebrados e com os músculos rasgados pelas presas do dragão, ainda lutou e conseguiu matar mais três meio dragões. O combate de Durin e Thurxanthraxinzethos estava absurdamente acirrado pelo que ouvi. Ambos lutaram por muito tempo, mas não houve vencedor no embate.
Agora... o que realmente prendeu minha atenção... Após abrir caminho entre bárbaros orcs e guerreiros élficos, Coran e Skarr se encontraram no campo de batalha. Lembro-me que Skarr gargalhou e lançou um insulto à memória de Thingol, mas antes de terminar teve que se esquivar bruscamente para não ser decapitado pela espada de Coran. O machado de Skarr era poderoso, mas a espada de Coran, a Lâmina de Gelo, é a arma mais poderosa já forjada pelos elfos de Sírhion, e foi capaz de resistir ao machado de Skarr da mesma forma que o machado de Balderk fizera antes. Tentei me aproximar para ajudar Coran, mas quase fui pisoteada até a morte no meio do caminho. E se não fosse por Tallin e depois pela magia de Aramil que nos tirou daquele local e nos levou para uma colina próxima, eu não estaria aqui. Coran e Skarr lutaram em um embate tão equilibrado quanto o de Durin e Thurxanthraxinzethos. Ambos eram combatentes extremamente experientes. Veteranos de inúmeros campos de batalha e os melhores homens de armas que suas raças tinham a oferecer. Contudo, após quase cortar fora o braço esquerdo de Skarr com sua espada, Coran foi atingido por um murro da manopla de ferro de Skarr. Coran foi capaz de resistir à magia desintegradora da manopla, mas teve seu nariz esmagado e perdeu a visão por uma fração de segundo. Isto foi o suficiente para que Skarr o derrubasse com uma rasteira e desferisse um ataque devastador com seu machado. Devido ao reflexo ou à experiência, Coran bloqueou o golpe com o escudo, mas foi arremessado para trás com o impacto e teve seu braço direito quebrado no processo.
Skarr já não conseguia usar o machado com ambos os braços por causa do ferimento que sofrera, mas avançou furiosamente, e mesmo empunhando sua arma com apenas uma das mãos, a força de seu ataque e sua precisão ainda eram devastadoras. Quando ele chegou a cerca de um metro de Coran, desferiu um golpe mortal antes que ele pudesse levantar-se. Neste instante, Coran usou toda a força que tinha para se levantar, e se desviou alguns centímetros para a direita. O machado de Skarr rompeu a armadura de Coran, atravessou seu ombro direito e lhe arrancou o braço que estava quebrado. Neste exato momento, Coran usou seu outro braço para cravar sua espada de baixo para cima na cabeça de Skarr. A Lâmina azulada de Coran atravessou a mandíbula de Skarr e rompeu pelo crânio do maldito. Os dois caíram no chão completamente destruídos.
O local onde Coran tombou quase morto foi envolvido por uma sombra escura e avermelhada, que o envolveu totalmente e deixou uma marca vermelha na forma de uma terrível cicatriz no lado direito de seu rosto. Coran estava inconsciente, mas mesmo assim urrou de dor. Eu gritei desesperada, e quando achei que nada poderia piorar, Skarr começou a se levantar e gargalhar, com uma cicatriz idêntica à de Coran.
Foi apenas neste instante que a jóia que o Senhor dos Ventos me deu começou a brilhar. Eu a empunhei, e ela emitiu uma luz branca que parecia envolver todos naquele campo de batalha. Senti que poderia fazer um único desejo e que se este fosse “certo”, a jóia iria atendê-lo. O Senhor dos Ventos havia me avisado que o poder da jóia era alimentado por amor, e que eu não poderia ser egoísta. Chorei e sufoquei o ódio que sentia por Skarr e pelo Rei Dragão. Removi temporariamente a imagem de Coran agonizando e desejei que todos ali voltassem para seus locais de origem.
A luz se intensificou, e a próxima coisa que vi foram Evan, Tallin e o corpo de Coran ao meu lado nas casas de cura de Sírhion. Thamior já estava lá como se pressentisse algo, e curou rapidamente o corpo de Coran. Mas mesmo com todo seu poder e conhecimento, ele ainda não foi capaz de determinar o que é esta marca no rosto de Coran e qual sua ligação com Skarr. Poucas horas depois descobri que Aramil e Bheleg estavam bem em Sindhar, da mesma forma que Hargor, Oyama, Bulma e Durin em Darakar. Todos os soldados, vivos ou mortos, reapareceram magicamente em seus reinos de origem graças ao poder da jóia. Não tivemos notícias do Rei Dragão, Thurxanthraxinzethos ou de Skarr.
Como você já sabe, os reinos de Sírhion, Sindhar e Darakar estão em um luto de três dias, no qual serão velados e honrados todos os nossos guerreiros tombados. Pelo que Hargor me disse, Durin realizou aquilo que os anões denominam “Chamado do Trovão”, uma convocação que todos os anões em Elgalor responderam e se dedicarão à guerra de extermínio de todos os inimigos dos anões. O Alto Conselho de Sindhar ainda não tomou nenhuma decisão em relação a isto e estamos esperando que Coran acorde para saber qual será a posição de Sírhion.”
- Isso foi tudo que aconteceu durante sua ausência, princesa Meliann – disse Astreya enxugando as lágrimas que começavam a se formar em seus olhos.
Meliann estranhamente não chorava. Ela estava em um estado de choque tão profundo que parecia não sentir absolutamente nada a seu redor.
- Eu... eu sinto muito – disse Meliann se levantando e abraçando Astreya como se tudo aquilo fosse um grande pesadelo.
- Tudo... – vai ficar bem – disse Astreya mais para si mesma do que para Meliann.
- Com licença – ambas ouviram uma voz familiar do outro lado da porta do quarto. Era Evan.
- Entre – disse Astreya se levantando.
Evan entrou e fez uma reverência na direção da cama onde estava Coran.
- Sei que esta é uma hora de pesar e tristeza – disse o paladino da forma mais suave possível – mas algo terrível está acontecendo nas Terras Sombrias. O Senhor dos Ventos está no Salão de Guerra de Sírhion e precisa que saiamos em missão urgentemente.
- Detesto dizer isso, Astreya – continuou o paladino – mas não nos será permitido orar por nossos mortos e cuidar de nossos feridos agora. Por mais difícil que seja, precisamos nos reunir e partir em missão imediatamente...
Não me canso de dizer que o Odin continua a se superar nos contos.
ResponderExcluirSe não fosse o quartel, namorada e a facul, eu poderia ter um tempinho para escrever os Crônicas do Caçador.
Não há pressa, nobre amigo!
ResponderExcluirMas admito que estou muito ansioso pela continuação das Crônicas do Caçador.